Perguntas Frequentes sobre o Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes.
O que é abuso sexual de crianças e adolescentes?
Abuso sexual é toda conduta por meio da qual crianças ou adolescentes são usados para a gratificação sexual de um adulto ou de alguém com um grau de desenvolvimento psicossexual mais adiantado. É fundamental entender que esse tipo de violência não se restringe à penetração. Toques inadequados, carícias íntimas, comentários inapropriados, convites eróticos e até mesmo olhares invasivos são considerados atos abusivos. Também configura abuso sexual o envolvimento de crianças e adolescentes em pornografia, seja quando são usados para produção de material erótico, em fotos ou vídeos, ou quando são expostos a qualquer tipo de conteúdo pornográfico.
O abuso sexual de crianças e adolescentes é frequente? Preciso mesmo me preocupar?
Embora muita gente ache que se trate de algo raro, a violência sexual contra crianças e adolescentes ocorre com frequência. As estatísticas sobre o problema divergem, mas, com base nos casos denunciados, o UNICEF [1] aponta que 20% das mulheres e 10% dos homens passam por eventos sexualmente abusivos na infância. Como o tema envolve tabus e questões com as quais temos dificuldade em lidar, é quase certo que o problema seja muito maior, com grande número de casos que não chega ao conhecimento das autoridades. É preciso, portanto, se preocupar, mas não é necessário ficar paranoico. A prevenção e o combate ao abuso sexual começam pelo reconhecimento do problema e pelo desenvolvimento de mecanismos de proteção junto a crianças e adolescentes.
A violência sexual contra crianças e adolescentes está se tornando mais frequente?
A violência sexual contra crianças e adolescentes sempre existiu. Há, entretanto, uma conscientização crescente sobre o problema e uma melhoria dos serviços de proteção, o que tem permitido um aumento nas taxas de detecção e na formalização de denúncias. Não é possível dizer que esteja acontecendo um aumento no número de casos, mas sim que há uma visibilidade maior de um problema que sempre aconteceu.
É comum as crianças inventarem casos de abuso sexual?
Estudos indicam que apenas entre 1,5% e 6% dos casos são fictícios. É mais comum que as vítimas se calem ou minimizem os abusos do que realizem falsas acusações [2]. Embora as crianças tenham capacidade de mentir e contar histórias fantasiosas, suas narrativas costumam se dar em torno de temas infantis próprios a suas faixas etárias. Considerando que cenas de conteúdo erótico não fazem parte da vivência comum da infância, relatos que incluem interações sexuais sempre devem ser vistos como sinal de alerta.
Qual o impacto da violência sexual sobre crianças e adolescentes?
A violência sexual gera efeitos a curto e médio prazos e pode ocasionar danos permanentes. Entre as consequências mais comuns, estão sintomas físicos, cognitivos e comportamentais, além de conflitos psíquicos e emocionais. Dificuldades de relacionamento, problemas de autoestima, envolvimento com substâncias psicoativas, comportamentos autodestrutivos e também o aumento no risco de suicídio são algumas das manifestações observadas em muitas das vítimas. Cabe esclarecer que os possíveis efeitos variam em cada caso e podem ser minimizados ou agravados por fatores externos, incluindo, por exemplo, o modo como a família reage à revelação do abuso.Vítimas que são apoiadas, sem que seu relato seja questionado ou desacreditado, tendem a lidar mais facilmente com a situação.
Quem são os abusadores sexuais de crianças e adolescentes?
É um erro acreditar que os abusadores são indivíduos de perfil que foge do comum - antissociais, “esquisitos”, isolados, desorganizados ou com aparência amedrontadora. Pelo contrário, a grande maioria dos abusadores se mostra adaptada socialmente e se porta de forma amável e generosa. Podem ser pessoas que parecem honestas, serem casadas, religiosas e profissionalmente estáveis. São pessoas que parecem honestas, muitas vezes casadas, religiosas e profissionalmente estáveis. Por essas características, conseguem facilmente a confiança da família e o acesso à vítima, condições fundamentais para que possam praticar seu intuito de violência sexual.
Acredito que meus filhos estão protegidos. Preciso me preocupar com o abuso sexual de crianças e adolescentes?
A violência sexual pode ocorrer com qualquer criança e adolescente, em qualquer local e em todo tipo de família. Nesse sentido, é fundamental desenvolver junto aos filhos estratégias de prevenção, para que possam detectar comportamentos abusivos e se protegerem desse tipo de situação.
Meu filho quase nunca fica sozinho com estranhos. Preciso me preocupar com o abuso sexual?
É difícil aceitar isso, mas a maioria dos atos de violência sexual contra crianças e adolescentes parte de parentes, vizinhos, amigos ou pessoas próximas à vítima, que tem fácil acesso a ela e contam com a confiança da família. Em apenas cerca de 13% dos casos, o agressor é um desconhecido [3].
É verdade que todo abusador foi sexualmente abusado na infância?
Ainda que muitos agressores sexuais refiram terem sofrido violência sexual quando eram crianças, a hipótese de que se tornaram abusadores em razão dessa situação não se justifica cientificamente. Não há um perfil típico ou um traço específico que caracterize todos os agressores sexuais. O comportamento abusivo é resultado de motivações diversas, que variam caso a caso.
Além disso, é preciso considerar que os agressores compreendem o caráter ilícito do abuso sexual e sabem que provocam grande hostilidade nas pessoas. Nesse sentido, pode ocorrer de o abusador referir ter sido vítima na infância a fim de gerar empatia ou ganhar a compaixão social.
É abuso sexual quando a criança/adolescente é quem provoca o adulto?
Crianças e adolescentes nunca devem ser responsabilizados pelo abuso sexual. Sabemos que, em determinados contextos e por referências do ambiente, elas podem se vestir com roupas muito curtas, dançar de maneira sensual, tirar fotos que mostram o corpo, etc. Mesmo nessas circunstâncias, o adulto, por sua maior maturidade, é quem tem total responsabilidade por controlar qualquer impulso sexual que possa ter sobre aquela criança ou adolescente e pela condução adequada da situação.
Os adolescentes hoje em dia têm “corpão” e aprendem sobre sexo muito cedo na internet. Mesmo assim, é abuso sexual quando se envolvem com pessoas mais velhas?
Ainda que os jovens tenham cada vez maior acesso à informação, inclusive a material erótico, a capacidade dos adolescentes de avaliar os riscos e as consequências dos próprios atos não depende desse fator. Além disso, mesmo que muitas adolescentes sejam fisicamente desenvolvidas e estejam dispostas a se relacionarem com homens adultos, é impossível negar a diferença entre o desenvolvimento psíquico e emocional delas com relação a esse tipo de parceiro. Isso vale também para os jovens do sexo masculino. Em resumo: Sim, o envolvimento de pessoas adultas com adolescentes também pode ser considerado abuso sexual.
Foi violência sexual se a vítima não reagiu? Ela poderia estar gostando...
Esse tipo de argumento acontece principalmente com relação a vítimas adolescentes que, em tese, teriam alguma condição física para impor resistência ao abusador. Aqui, cabe esclarecer que a falta de reação, também conhecida como freezing (ou congelamento), é uma resposta defensiva muito comum e ocorre frequentemente diante de situações traumáticas, inclusive no reino animal. É usual ouvir, mesmo de vítimas adultas, relatos de que se sentiu “paralisada”, sem conseguir fazer nada para se defender da situação de violência. Diante disso, deve-se ter claro que, independentemente da reação da vítima, a responsabilidade pela violência sexual é sempre do agressor.
A criança/adolescente relatou um abuso sexual, mas o exame de corpo de delito não constatou nada. Ela mentiu?
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que há situações de violência sexual que não envolvem contato físico e que não deixam marcas no corpo das vítimas, como quando são expostas a material pornográfico ou recebem comentários constrangedores de teor erótico. Em outras circunstâncias, o ato abusivo pode até ter toque, mas não envolver penetração, sendo que isso também faz com que o exame genital não evidencie qualquer alteração perceptível. Finalmente, é importante destacar que esses exames vêm sendo bastante debatidos na comunidade científica, pois é comum que se tenha resultados negativos, mesmo em casos em que a violência acabou comprovada por outros meios.
A criança/adolescente demorou demais para falar do abuso sexual. Será que está inventando?
Esse pensamento se baseia na ideia equivocada de que é simples para a criança ou para o adolescente contar sobre o abuso sexual e buscar ajuda. Na situação real, são vários os motivos que podem levar uma vítima a não revelar o que aconteceu, como vergonha, medo ou por ameaças feitas pelos agressores. É muito comum que esse tipo de violência permaneça em segredo, mesmo em situações sexualmente abusivas que se prolongam por anos. O que ocorre é que muitas vítimas, às vezes estimuladas por algum evento externo, como casos que aparecem na mídia ou uma aula da escola sobre o assunto, acabam ganhando coragem para revelar algo que já aconteceu há muito tempo.
Há casos em que a criança/adolescente conta ter sofrido uma violência sexual, mas depois quer retirar a denúncia. Ela estava mentindo, então?
Com frequência, depois da denúncia, a vítima é solicitada a repetir o relato do abuso em diversas ocasiões, o que provoca muito sofrimento. Além disso, a revelação da violência pode produzir uma enorme crise nas relações familiares, especialmente quando o suposto agressor é uma pessoa conhecida. Não são raros os casos onde a vítima tem sua versão desacreditada e passa por interrogatórios, dentro e fora da família, isso quando não é responsabilizada por provocar o abuso. Para além do sentimento de culpa que surge nesses casos, o agressor muitas vezes é quem sustenta a casa, o que gera preocupação adicional. Todo esse contexto pode causar uma grande pressão sobre a vítima, que às vezes decide retirar a denúncia para não lidar com as consequências da revelação e da possível responsabilização do agressor.
Como a violência sexual de crianças e adolescentes pode ser prevenida?
Existem várias formas de tentar evitar que esse crime aconteça e aqui, no INSTITUTO ALEXIS, oferecemos um extenso conteúdo com o que você precisa saber para proporcionar mais segurança às crianças e adolescentes do seu meio.
Conforme acreditamos, CONHECIMENTO É PROTEÇÃO, e você encontra muitas informações práticas no nosso Instagram, no blog e nos nossos cursos.
Estamos juntos nesse desafio!
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[1] UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância. (2006). Situação da Infância Brasileira. Brasília: UNICEF.
[2] Rovinski, S. & Pelisoli, C. L. (2019). Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes: testemunho e avaliação psicológica. São Paulo: Vetor.
[3] Sanderson, C. (2008). Abuso Sexual em Crianças: fortalecendo pais e professores para proteger contra abusos sexuais e pedofilia. São Paulo: M. Books do Brasil.