Muita gente acredita que conversar sobre sexualidade com os filhos pode fazer com que se tornem mais curiosos sobre sexo e com que queiram iniciar logo a vida sexual. Acham que abordar o assunto estimula crianças e adolescentes à atividade sexual e os torna mais propensos à iniciação sexual precoce. Tal entendimento, na verdade, corresponde a um grande mito, que dificulta a educação sexual em muitos lugares e que contraria o resultado de inúmeras pesquisas que demonstram o impacto positivo desse tipo de conteúdo.
De modo geral, estudos nacionais e internacionais sobre a vida sexual dos jovens apontam que aqueles que são orientados sobre assuntos como reprodução humana, contracepção e gravidez, consentimento, infecções sexualmente transmissíveis, entre outros, costumam ser mais sexualmente saudáveis e fazer escolhas mais benéficas no que alude ao exercício sexual. Disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015) detalha que entre esses adolescentes notam-se a diminuição nas taxas de gravidez indesejada e o aumento no uso de preservativos. Além disso, em contraponto à crença popular, evidências de pesquisas realizadas em diversos países apontam que esses jovens usualmente têm a primeira relação sexual, também chamada de sexarca, mais tardiamente do que aqueles que não recebem os mesmos ensinamentos.
Não é a educação sexual, portanto, que impele os jovens para a prática do sexo. Ao contrário, é cientificamente comprovado que o ensino desse conteúdo os torna mais conscientes e protegidos dos riscos inerentes à vida sexual ativa. De outro modo, as pesquisas científicas também indicam que os reais fatores que levam ao exercício sexual precoce são outros, bastante corriqueiros e cotidianos.
A falta de supervisão dos pais, a falta de emprego ou de ocupação por longos prazos diários, o acesso precoce a cenas eróticas, a vivência de problemas ou abusos familiares, o vínculo precário com os pais, a pressão dos parceiros e a crença de que os amigos já mantêm relações sexuais estão entre os principais aspectos que costumam influenciar na antecipação da iniciação sexual. Por sua vez, a imaturidade para esses contatos íntimos remonta ao uso inconsistente de preservativos e de contraceptivos. Psicologicamente, o resultado muitas vezes envolve arrependimento, o que pode culminar em depressão, envolvimento com drogas e ideação suicida.
Vislumbrando esse quadro, fica evidente a necessidade de que certos estigmas e preconceitos sociais quanto à educação sexual sejam revistos e superados. Enquanto política pública, é essencial a articulação de profissionais de educação e de saúde, bem como a conscientização das famílias, para o amplo desenvolvimento de ações sistemáticas que tornem mais acessíveis os conteúdos em sexualidade para crianças e adolescentes.
Vale destacar que a sexualidade é parte natural da vida, tem expressão nas diversas fases evolutivas mesmo entre os pequenos e os jovens, e é um direito deles. Não há fundamentos para que seja negligenciado a esse público o acesso a informações tão relevantes. Sendo assim, vamos sempre lembrar: conhecimento é proteção!
Liliane Domingos Martins
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