É comum que crianças vítimas de violência sexual comuniquem ter sentido um desconforto com a abordagem do agressor. Podem não saber explicar muito bem, mas, quando revelam o abuso, dizem ter percebido que aquilo não parecia certo. Essa sensação pode se misturar com muita dúvida quando esse contato é apresentado pelo abusador como uma forma de carinho ou uma brincadeira. Apesar da confusão que sentem, é importante que os pais estejam atentos para ensinar seus filhos a confiarem em seus instintos e nessa sensação de que há algo errado em alguns tipos de contato físico.
Toda criança pode aprender a ligar esse “radarzinho” sobre situações sexualmente abusivas. Sobre isso, a grande dúvida é: como fazer para que esse mecanismo interno funcione bem? A resposta envolve ensinar aos filhos algumas estratégias para que reconheçam e reajam a qualquer incômodo que o toque de terceiros provoque neles.
Nesse exercício, é importante que os pais compreendam que as demonstrações físicas de afeto por parte da criança precisam ser espontâneas. Ela deve ser desobrigada a dar beijos ou abraços em qualquer pessoa quando não tem vontade de fazer isso. Do mesmo modo, toda criança deve ser incentivada a se opor quando a aproximação física de alguém lhe causar vergonha ou dor. Ela deve ser autorizada a explicar para a tia que acha desagradável quando ela lhe aperta as bochechas ou a dizer “NÃO” para um tio que lhe abrace de uma forma estranha.
Longe de parecer falta de educação, esses cuidados ajudam a criança a entender que o corpo dela e suas impressões devem ser sempre respeitados. A ideia é que ela esteja alerta, que saiba reconhecer quando algo errado acontece e que tenha confiança no apoio dos pais para contar sobre qualquer sensação ruim que experimentar.
Liliane Domingos Martins