É bastante comum em nosso dia a dia observarmos adultos que, buscando um momento de interação divertida, falam para a criança: “Ele é seu namoradinho?” ou “Vai lá, pega na mão da sua namorada”. Há também as ocasiões em que os adultos riem e acham bonitinho quando a criança comenta que está namorando ou que seus coleguinhas namoram.
Essas situações, aparentemente inocentes e inofensivas, acabam por desviar a atenção da criança de temas típicos de seu universo infantil para direcioná-la a um tema que não combina com sua idade. Existe um momento específico para vivenciar cada etapa da vida. A criança encontra-se em franco processo de desenvolvimento no qual seu tempo deve ser dedicado a brincar, estudar, aprender a se relacionar, lidar com regras e limites, dentre inúmeras outras coisas.
As crianças, quando brincam juntas, dividem um lanche, pegam na mão ou se abraçam, não estão estabelecendo uma relação de namoro, mas uma relação de amizade com alguém que gostam. Nesse sentido, é importante que o adulto nomeie de forma correta esse tipo de interação.
Não se trata de brigar com a criança ou de reprimi-la quando ela fala que tem um(uma) namorado(namorada). Procure não julgar ou se assustar com aquilo que a criança está dizendo, e aproveite a oportunidade para estabelecer um diálogo cuidadoso, acolhedor e orientador. Desse modo, se a criança diz que tem um namorado, converse a respeito e pergunte com quem ela está namorando, como ela namora. Busque compreender aquilo que a criança está comunicando. Em seguida, oriente e explique que, quando ela gosta ficar perto de um coleguinha e brincar com ele, significa que ela é amiga dele. Crianças têm amigos, não namorados. Apenas adultos namoram.
Os pequenos observam os adultos e aprendem por modelo. É possível que a criança, vendo os pais se beijarem e tendo comportamentos de intimidade, eventualmente, queira imitar. Não é preciso esconder da criança as expressões de afeto. Não é nada disso. Ao contrário, esse é um momento oportuno para explicar que existem coisas que crianças fazem e coisas que adultos fazem.
É importante que a criança entenda que namoro é “coisa de adulto”. Essa é uma postura que busca evitar a erotização precoce e possibilita que a criança ache estranho, caso seja abordada de uma maneira “romântica” ou “sedutora” por um adulto. Quando essa regra é internalizada pela criança, ela fica mais protegida.
Silvia Pereira Guimarães
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