A gente sabe que revelar um abuso sexual é uma tarefa complicada. Vergonha, culpa, constrangimento, além do medo de ser julgada ou ridicularizada fazem com que muita gente mantenha a vitimização em segredo por anos, senão por toda a vida. O sentimento de injustiça e solidão acompanha muitas das vítimas, que podem se ver marcadas de forma definitiva pelo sofrimento.
Em meio a essas dificuldades, as revelações de celebridades quanto a terem sido molestadas na infância podem ser importantes exemplos para outras vítimas. Saber que o abuso não é capaz, por si só, de destruir a vida de alguém faz com que outras pessoas que também passaram pelo problema se sintam aptas a superá-lo e estimuladas a dividirem sua dor.
Gente como Xuxa, Luana Piovani, Marcelo Adnet, Marilyn Monroe, Axl Rose, Oprah Winfrey, Queen Latifah, Rita Lee, Luiza Brunet, Joanna Maranhão, Cláudia Jimenez, Pamela Anderson, José de Abreu, Pitty, Monique Evans, Letícia Sabatela, Sinead O’Connor, Cindy Lauper, Ashley Judd, Annalynne McCord, Samantha Morton, Vanessa Williams, Teri Hatcher, Hellen Mirren, Dylan Allen e Fiona Apple revelaram ter sofrido violência sexual na infância. Já Madonna e Lady Gaga foram vitimizadas quando adultas.
São relatos difíceis, mas que escancaram o problema da violência sexual e incentivam muitos a não mais sofrerem calados. Da nossa experiência junto a casos concretos, vemos que muitas vítimas se fortalecem e ganham coragem para a denúncia vendo esse assunto na mídia, seja no depoimento de alguém famoso, seja quando séries ou novelas retratam esse tema.
Nesse sentido, campanhas online ou movimentos que visam conscientizar sobre o abuso sexual e estimular a troca de experiências como o “Me Too”, “Meu Amigo Secreto”, “Meu Primeiro Assédio”, “Mexeu com Uma, Mexeu com Todas”, dentre outros, também são importantes para mostrar a dimensão dessa questão e trazer apoio às vítimas.
Pouco a pouco, a sociedade tem construído um olhar mais realista sobre a violência sexual, um problema comum que atinge cerca de 20% das meninas e 10% dos meninos. Cada vez menos cabe culpabilizar a vítima pela violência, o que, venhamos e convenhamos, não faz o menor sentido. Ninguém ousa dizer que alguém merece ser roubado porque sai com um veículo caro na rua ou que tudo bem alguém tomar seu sanduíche no shopping porque estava com fome. Quando se diz que uma vítima mereceu a violência em razão de seu comportamento, de sua vestimenta ou de sua inocência, é esse tipo de explicação absurda que se tenta dar. Em qualquer contexto, esse é um raciocínio que não se aplica. Quem age contra os bens, contra o corpo ou contra a honra de alguém pode e deve ser responsabilizado, de forma pessoal e exclusiva, pelo seu ato.
Juliana Borges Naves
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