Quando o mês de dezembro começa, iniciam-se também os preparativos para várias celebrações deliciosas. Eventos e festas se multiplicam na agenda e é importante que os pais estejam atentos para a ameaça de abuso sexual sempre que há muita gente reunida. É claro que o carinho que damos e recebemos nessa época é bastante bem vindo, mas algum alerta costuma ser natural por parte de adultos responsáveis. Quando chegamos em uma confraternização na casa de alguém, avaliamos a falta de proteção na piscina, o alcance do fogo do churrasco ou a altura da janela de um apartamento, de maneira a evitar que as crianças sofram algum acidente. Do mesmo modo, é comum que os pais estejam ligados sobre como as pessoas interagem com seus filhos e como eles respondem a essas interações para evitar que os mais novos desrespeitem os mais velhos ou vice-versa.

São várias as condições que fazem com que os adultos se distraiam do risco de abuso nessas ocasiões festivas. Em primeiro lugar, existe uma crença popular de que a violência sexual ocorre sempre de forma privada, na ausência de terceiros. Sob esse raciocínio, crianças que estejam em uma festa encontram-se a salvo de abusos, mas isso não é verdade. Abusos são frequentes mesmo quando há outras pessoas presentes além da vítima e de seu violador. Isso ocorre, por exemplo, quando alguém mostra vídeos pornográficos para sobrinhos adolescentes no canto da sala ou quando a criança é tocada em suas partes íntimas por baixo de uma mesa.

Além disso, muitos pais se distraem sobre o risco de violência sexual porque confiam plenamente nas pessoas com quem estão confraternizando. Os laços afetivos são essenciais para todos e devemos muitos à nossa rede de suporte emocional quando enfrentamos qualquer problema. Entretanto, ainda que haja esse entendimento, os pais devem ser lembrados de que, segundo a literatura científica, a maior parte dos abusos é cometido por conhecidos e pessoas próximas da família da vítima. Assim, mesmo com um grupo muito próximo e querido, é preciso algum cuidado.

Vale acrescentar que o uso de álcool é um outro fator que influencia sobre essas situações. Para agressores, a ingestão de bebidas pode fazer com que fiquem mais desinibidos e impulsivos e, portanto, mais propensos a atos de violência. Para os pais, o consumo de cervejas, vinhos, drinks ou similares tende a deixá-los mais confortáveis no ambiente e tranquilos contra qualquer potencial perigo circundante.

Nosso lembrete fundamental aqui é de que as crianças e adolescentes são parte das razões porque festejamos a vida, os vínculos e a família. A necessidade de que sejam cuidadas e protegidas deve seguir ainda que seja dezembro, ainda que estejamos em festa. No mais, devemos sim comemorar o fim do ano de trabalho, confraternizar com amigos, reunir com parentes próximos e distantes, brindar o esperançoso início de um novo ciclo da vida. E que venham muitos motivos para isso!

Liliane Domingos Martins