Atualmente, falar sobre educação sexual pode gerar polêmica, principalmente porque muita desinformação acabou contaminando esse tema tão importante, fundamental para o desenvolvimento e para a proteção de nossas crianças e adolescentes. 

Antes de mais nada, vale esclarecer que educação sexual ou educação em sexualidade nada tem a ver com tratar de assuntos eróticos com crianças, de estimulá-las ao sexo ou a influenciar quanto à orientação de gênero. Esse tipo de equívoco parte de um desconhecimento grave e muitas vezes preconceituoso sobre o assunto. 

Para começo de conversa, é preciso ter em mente que a sexualidade humana é bastante ampla e não se resume à atividade sexual propriamente dita, que é apenas uma das expressões possíveis da sexualidade na fase adulta. O que entendemos por sexualidade envolve a capacidade que cada ser humano tem de se relacionar afetivamente com o mundo e com os outros, na busca de prazer e de bem estar. 

A sexualidade está presente desde o nascimento e se manifesta, em cada fase, de uma maneira específica. A satisfação que um bebê tem ao ser aconchegado e alimentado, por exemplo, tem a ver com sexualidade, assim como o ciúme que a criança sente de seus brinquedos ou dos pais, a partir da chegada de um irmãozinho. A sexualidade compreende o estabelecimento de vínculos, o investimento de afeto e a busca de cada pessoa por evitar o desprazer.

Dizer que não só os adultos, mas também as crianças têm sexualidade é considerar que, desde bebês, temos um corpo completo, capaz de experimentar sensações variadas a partir dos estímulos externos. Assim, muito precocemente, o contato dos outros com nosso corpo, nos momentos de cuidado, por exemplo, gera efeitos, tanto no plano físico quanto no psíquico. 

Além disso, também compõe a sexualidade a relação de cada um consigo mesmo, a aquisição de uma imagem corporal e as marcas deixadas pelas experiências de satisfação e insatisfação. 

Cada fase da vida implica em uma expressão correspondente de sexualidade. A esse respeito, é importante conhecermos os interesses e comportamentos típicos de cada etapa de desenvolvimento, tanto para que possamos confirmar nossas crianças em experiências que para elas são importantes, quanto para sermos capazes de identificar sinais de conflito a partir de comportamentos atípicos.

Cabe ressaltar que a sexualidade infantil é bastante diferente da dos adultos. Assim, mesmo ações que por vezes são interpretadas como sexualizadas, como a manipulação dos genitais ou os jogos sexuais infantis, têm natureza diversa da masturbação e da relação sexual propriamente dita. Na criança, esses comportamentos costumam se dar a partir da curiosidade sobre o próprio corpo e sobre o corpo do outro, sem o componente erótico que compõe a sexualidade genital. Em razão disso, o contato de crianças com cenas de sexo explícito ou pornografia tende a ser traumático, pois tal conteúdo excede a capacidade delas de elaboração psíquica e emocional.

Entender a sexualidade infantil e compreender as peculiaridades da sexualidade na adolescência pode ajudar enormemente na orientação de nossos pequenos, no estabelecimento de um diálogo franco e na efetiva prevenção do abuso sexual.

Juliana Borges Naves