7 de julho de 2021Comments are off for this post.

Quem tem medo da educação sexual?

Atualmente, falar sobre educação sexual pode gerar polêmica, principalmente porque muita desinformação acabou contaminando esse tema tão importante, fundamental para o desenvolvimento e para a proteção de nossas crianças e adolescentes. 

Antes de mais nada, vale esclarecer que educação sexual ou educação em sexualidade nada tem a ver com tratar de assuntos eróticos com crianças, de estimulá-las ao sexo ou a influenciar quanto à orientação de gênero. Esse tipo de equívoco parte de um desconhecimento grave e muitas vezes preconceituoso sobre o assunto. 

Para começo de conversa, é preciso ter em mente que a sexualidade humana é bastante ampla e não se resume à atividade sexual propriamente dita, que é apenas uma das expressões possíveis da sexualidade na fase adulta. O que entendemos por sexualidade envolve a capacidade que cada ser humano tem de se relacionar afetivamente com o mundo e com os outros, na busca de prazer e de bem estar. 

A sexualidade está presente desde o nascimento e se manifesta, em cada fase, de uma maneira específica. A satisfação que um bebê tem ao ser aconchegado e alimentado, por exemplo, tem a ver com sexualidade, assim como o ciúme que a criança sente de seus brinquedos ou dos pais, a partir da chegada de um irmãozinho. A sexualidade compreende o estabelecimento de vínculos, o investimento de afeto e a busca de cada pessoa por evitar o desprazer.

Dizer que não só os adultos, mas também as crianças têm sexualidade é considerar que, desde bebês, temos um corpo completo, capaz de experimentar sensações variadas a partir dos estímulos externos. Assim, muito precocemente, o contato dos outros com nosso corpo, nos momentos de cuidado, por exemplo, gera efeitos, tanto no plano físico quanto no psíquico. 

Além disso, também compõe a sexualidade a relação de cada um consigo mesmo, a aquisição de uma imagem corporal e as marcas deixadas pelas experiências de satisfação e insatisfação. 

Cada fase da vida implica em uma expressão correspondente de sexualidade. A esse respeito, é importante conhecermos os interesses e comportamentos típicos de cada etapa de desenvolvimento, tanto para que possamos confirmar nossas crianças em experiências que para elas são importantes, quanto para sermos capazes de identificar sinais de conflito a partir de comportamentos atípicos.

Cabe ressaltar que a sexualidade infantil é bastante diferente da dos adultos. Assim, mesmo ações que por vezes são interpretadas como sexualizadas, como a manipulação dos genitais ou os jogos sexuais infantis, têm natureza diversa da masturbação e da relação sexual propriamente dita. Na criança, esses comportamentos costumam se dar a partir da curiosidade sobre o próprio corpo e sobre o corpo do outro, sem o componente erótico que compõe a sexualidade genital. Em razão disso, o contato de crianças com cenas de sexo explícito ou pornografia tende a ser traumático, pois tal conteúdo excede a capacidade delas de elaboração psíquica e emocional.

Entender a sexualidade infantil e compreender as peculiaridades da sexualidade na adolescência pode ajudar enormemente na orientação de nossos pequenos, no estabelecimento de um diálogo franco e na efetiva prevenção do abuso sexual.

Juliana Borges Naves

31 de março de 2021Comments are off for this post.

A sexualidade infantil

O tema “sexualidade infantil” é considerado um tabu em nossa sociedade, o que torna esse assunto algo difícil de ser abordado e conversado abertamente. De modo geral, os pais também trazem consigo uma noção de sexualidade como sendo relacionado a algo proibido, constrangedor, sujo, cheio de vergonha. Tal noção está ligada à educação que eles próprios receberam de seus progenitores e que, gradativamente, vão repassando aos filhos. Se qualquer questão relacionada ao corpo ou à nudez da criança gera uma reação de repressão ou excessiva vergonha, a criança vai internalizando essas noções e associando a sexualidade a algo que não se fala, que se esconde, algo negativo etc. 

Nesse mesmo sentido, quando os pais têm uma visão mais natural da sexualidade e do corpo, transmitem essa mesma concepção para seus filhos. Isso possibilita que a criança construa uma melhor relação com o próprio corpo e com a sexualidade, o que, em um sentido mais amplo, auxilia na prevenção de abusos. 

Quando a sexualidade é tratada dentro da família como um dos aspectos naturais da vida, a criança se sente livre e segura para perguntar aos pais aquilo que tem dúvida e os pais se sentem confiantes para conversar e orientar de forma adequada com seus filhos. Dentre essas orientações, estão aquelas relacionadas à consentimento, limites do próprio corpo, os nomes das partes íntimas, toques apropriados e toques inapropriados, reconhecimento de sensação de desconforto etc. 

É preciso entender que a sexualidade infantil é muito diferente da sexualidade adulta. Para a criança, os órgãos genitais não são o centro do prazer sexual como acontece com os adultos. Nos primeiros anos de vida, a criança está descobrindo o próprio corpo, a funcionalidade de cada parte e as sensações relacionadas a elas. Assim, a criança explora seu corpo, corre, rodopia, percebe que sente cócegas em algumas partes e sensações boas em outras. Para a criança, os genitais não são uma zona sexual ou erótica, essa concepção ainda não foi construída. 

Portanto, quando falamos de sexualidade infantil, estamos tratando de uma concepção muito mais ampla, que envolve as experiências sensoriais e corporais como um todo; a forma como percebemos e nos sentimos em relação ao próprio corpo; tudo o que se refere a ser homem e ser mulher; a forma como nos relacionamos com as pessoas que gostamos; o desenvolvimento e as mudanças corporais; e a reprodução humana.  

As crianças são naturalmente curiosas e expressam curiosidade também pelas questões da sexualidade, assim como fazem em diversas áreas da vida. Cabe aos pais ou responsáveis influenciá-las de forma adequada para a construção de uma sexualidade saudável. Para isso, é importante orientar os pequenos sem envergonhá-los ou repreendê-los por estarem fazendo uma pergunta. Crianças precisam ser ensinadas de forma respeitosa e em linguagem adequada, sem que se sintam culpadas por uma curiosidade ou exploração sexual normal.  

Uma boa forma de fazer isso é internalizando uma concepção geral de sexualidade infantil como algo natural da vida, obtendo informações sobre o que é esperado em cada etapa do desenvolvimento e conhecendo os comportamentos sexuais típicos, ou seja, considerados “normais” ou comuns à maioria das crianças. Essa postura auxilia os pais a lidarem com a sexualidade dos filhos de uma forma mais tranquila, assumindo posturas mais saudáveis e efetivamente protetivas. 

Silvia Pereira Guimarães