O tema “sexualidade infantil” é considerado um tabu em nossa sociedade, o que torna esse assunto algo difícil de ser abordado e conversado abertamente. De modo geral, os pais também trazem consigo uma noção de sexualidade como sendo relacionado a algo proibido, constrangedor, sujo, cheio de vergonha. Tal noção está ligada à educação que eles próprios receberam de seus progenitores e que, gradativamente, vão repassando aos filhos. Se qualquer questão relacionada ao corpo ou à nudez da criança gera uma reação de repressão ou excessiva vergonha, a criança vai internalizando essas noções e associando a sexualidade a algo que não se fala, que se esconde, algo negativo etc. 

Nesse mesmo sentido, quando os pais têm uma visão mais natural da sexualidade e do corpo, transmitem essa mesma concepção para seus filhos. Isso possibilita que a criança construa uma melhor relação com o próprio corpo e com a sexualidade, o que, em um sentido mais amplo, auxilia na prevenção de abusos. 

Quando a sexualidade é tratada dentro da família como um dos aspectos naturais da vida, a criança se sente livre e segura para perguntar aos pais aquilo que tem dúvida e os pais se sentem confiantes para conversar e orientar de forma adequada com seus filhos. Dentre essas orientações, estão aquelas relacionadas à consentimento, limites do próprio corpo, os nomes das partes íntimas, toques apropriados e toques inapropriados, reconhecimento de sensação de desconforto etc. 

É preciso entender que a sexualidade infantil é muito diferente da sexualidade adulta. Para a criança, os órgãos genitais não são o centro do prazer sexual como acontece com os adultos. Nos primeiros anos de vida, a criança está descobrindo o próprio corpo, a funcionalidade de cada parte e as sensações relacionadas a elas. Assim, a criança explora seu corpo, corre, rodopia, percebe que sente cócegas em algumas partes e sensações boas em outras. Para a criança, os genitais não são uma zona sexual ou erótica, essa concepção ainda não foi construída. 

Portanto, quando falamos de sexualidade infantil, estamos tratando de uma concepção muito mais ampla, que envolve as experiências sensoriais e corporais como um todo; a forma como percebemos e nos sentimos em relação ao próprio corpo; tudo o que se refere a ser homem e ser mulher; a forma como nos relacionamos com as pessoas que gostamos; o desenvolvimento e as mudanças corporais; e a reprodução humana.  

As crianças são naturalmente curiosas e expressam curiosidade também pelas questões da sexualidade, assim como fazem em diversas áreas da vida. Cabe aos pais ou responsáveis influenciá-las de forma adequada para a construção de uma sexualidade saudável. Para isso, é importante orientar os pequenos sem envergonhá-los ou repreendê-los por estarem fazendo uma pergunta. Crianças precisam ser ensinadas de forma respeitosa e em linguagem adequada, sem que se sintam culpadas por uma curiosidade ou exploração sexual normal.  

Uma boa forma de fazer isso é internalizando uma concepção geral de sexualidade infantil como algo natural da vida, obtendo informações sobre o que é esperado em cada etapa do desenvolvimento e conhecendo os comportamentos sexuais típicos, ou seja, considerados “normais” ou comuns à maioria das crianças. Essa postura auxilia os pais a lidarem com a sexualidade dos filhos de uma forma mais tranquila, assumindo posturas mais saudáveis e efetivamente protetivas. 

Silvia Pereira Guimarães