As crianças e adolescentes de hoje comumente são chamados de nativos digitais, uma vez que, desde que nasceram, as tecnologias digitais estão presentes em sua vida. Desse modo, desde muito cedo esses jovens frequentam o imenso espaço público social chamado internet.
Apesar da grande familiaridade com as diversas ferramentas tecnológicas, não se pode considerar que os nativos digitais tenham essa mesma habilidade para avaliar e gerenciar os riscos existentes nestes espaços. O domínio tecnológico não anda de mãos dadas com a capacidade crítica, estas são habilidades/aptidões distintas. Nesse sentido, é importante que adultos entendam os riscos e saibam como orientar seus filhos a respeito disso.
Sendo a internet um espaço democrático e livre, existem pessoas que fazem uso disso para enganar, seduzir ou induzir crianças e adolescentes a acessar conteúdos inadequados, como por exemplo a pornografia. Além disso, algumas vezes esses jovens são encorajados a enviar fotos e informações pessoais com propósitos duvidosos. Em alguns casos, são incitados até mesmo a encontros presenciais.
Em geral, os abusadores sexuais usam ferramentas de bate-papo como os chats de jogos on line, as redes sociais, ou aplicativos de troca de mensagens para se aproximarem dos jovens. Ali, se aproveitando do anonimato, essas pessoas podem se passar por adolescentes, por crianças da mesma idade ou um pouco mais velhas, para atrair o interesse com assuntos que agradam suas vítimas potenciais.
De modo geral, a abordagem pela internet costuma ser sutil e disfarçada. Os abusadores gastam um longo tempo na seleção, abordagem e no envolvimento da vítima, colocando em ação um processo chamado de aliciamento. A partir daí, constroem uma amizade, pautada em conversas sobre assuntos de interesse da criança/adolescente (jogos, esportes, personagens infantis, artistas de interesse do adolescente, etc), elogios, encorajamento para conversas mais privadas. Muitas vezes, os abusadores seduzem com promessas que parecem tentadoras às vítimas (por exemplo, apresentar algum famoso ou alguém que possibilita a realização do sonho do jovem; presentear com coisas materiais, como compra de itens/acessórios para jogos online, etc).
Quando já existe uma relação de amizade estabelecida, o abusador passa a focar no aumento da intimidade com a vítima e na introdução gradativa de material sexual. Tudo começa com perguntas inocentes como “você já foi beijada?”, “você tem namorado?”. Em alguns casos, pode se tornar um conselheiro amoroso/sexual.
Com o passar do tempo, o abusador envia fotos pornográficas para estimular a fantasia e a curiosidade da criança, assim como diminuir sua inibição. O passo seguinte é pedir que a criança/adolescente produza fotos ou vídeos mostrando partes do corpo ou simulando alguma cena sexual.
Assim, o conteúdo sexual que inicialmente era moderado, aos poucos se torna mais explícito. Existem casos em que o abusador ensina a criança a se masturbar ou tenta progredir para um encontro pessoal e contato sexual real. Todas as etapas envolvem muitos elogios, encorajamento positivo e clima de descontração e amizade. O objetivo é não causar medo na vítima, para que ela não revele o segredo.
É comum que, em determinada etapa dessa aproximação, a vítima se sinta desconfortável e queira parar o contato ou se negue a enviar algum material íntimo. Nessas situações, muitos abusadores mudam a estratégia e passam a utilizar as imagens que possuem para chantagear as vítimas em busca de mais fotos/vídeos ou de encontros, sob ameaça de divulgação.
Sentindo-se culpada e com vergonha por ter tirado fotos/vídeos, comumente a vítima não tem coragem de buscar ajuda, especialmente dos pais. Não querendo que outras pessoas tenham acesso àquele material íntimo, alguns jovens se tornam reféns do abusador que passa a chantagear e ameaçar a criança e a sua família.
Esse é um dos principais e mais comuns cenários de abuso sexual on-line. E o que fazer diante disso? Conversar e orientar os filhos sobre esse tipo de risco é um dos primeiros passos. Pesquise e aprenda sobre segurança na internet e formas de orientar crianças e adolescentes sobre o assunto. Estabeleça uma relação de confiança que permita esse tipo de conversa e lembre-se: conhecimento é proteção.
Silvia Pereira Guimarães