Sabemos que o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes deve ser um compromisso de toda a sociedade. A escola, como espaço de formação e desenvolvimento integral do sujeito, também ocupa lugar importante na ampla rede comprometida com a proteção de crianças e adolescentes.
Por fazerem parte do cotidiano dos alunos, os membros da comunidade escolar como um todo, em especial os educadores, direta ou indiretamente, têm acesso a vários aspectos da vida familiar deles. Nesse sentido, não é raro que as dificuldades e problemas enfrentados por crianças e adolescentes junto a suas famílias, encontrem expressão dentro da escola.
Quando se trata da vitimização de crianças e adolescentes, sabemos que a maior parte dos abusos sexuais são do tipo “intrafamiliar”, portanto, acontecem no ambiente doméstico. Além disso, apesar de existirem casos em que o episódio abusivo ocorre uma única vez, a tendência é que, caso não haja algum tipo de intervenção externa, esta situação volte a se repetir.
Por esses motivos, os professores são peças-chave na interrupção de ciclos de violência no contexto familiar. O silencioso sofrimento de crianças e adolescentes abusados sexualmente pode ser sinalizado na escola, das formas mais diversas: como uma mudança abrupta no comportamento, retraimento, tristeza, choro sem motivo, quedas bruscas no rendimento e/ou frequência escolar, dificuldade de concentração, comportamento sexual incompatível com a idade, dentre inúmeras outras formas.
Professores capacitados têm melhores condições de lidar com esse tema, reconhecer e identificar sinais de abuso sexual em crianças e adolescentes. Em razão dos conhecimentos que possuem acerca do desenvolvimento infantil, eles têm facilidade de se comunicar com as crianças e de reconhecer os elementos que fogem ao padrão evolutivo esperado naquela faixa etária.
Além disso, por serem figuras de referência na vida de muitos jovens, algumas vezes, os professores acabam sendo escolhidos como “adulto de confiança” de alguma criança ou adolescente. Ou seja, aquele estudante entende que o professor é uma pessoa em quem ele pode confiar, falar como está se sentindo e lhe confidenciar um problema. Nesse caso, é importante acolher o aluno e tomar as atitudes necessárias para o enfrentamento da situação.
Quando a comunidade escolar entende a dimensão do problema, de que forma acontece e como se manifesta, passa a adotar uma postura menos passiva em relação a este tema. Tal atitude envolve, primeiramente, a implementação de práticas preventivas como a educação em sexualidade e a orientação acerca de habilidades de autoproteção junto aos alunos. Além disso, envolve a capacidade dos educadores em reconhecerem os sinais de abuso sexual e de abordarem adequadamente esse problema tão complexo.
É preciso deixar claro que o compromisso com a proteção de nossos pequenos não pode ser uma escolha solitária de alguns educadores, mas sim um posicionamento conjunto, coletivo, onde todos estão unidos em um único foco: a luta contra o abuso sexual de crianças e adolescentes.
Silvia Pereira Guimarães