Movidas pela ansiedade natural de receber uma denúncia de violência sexual, muitas pessoas fazem promessas às vítimas que dificilmente podem ser cumpridas ou que envolvem questões às quais não podem controlar. Esse tipo de comportamento pode ter efeitos bastante ruins, pois, frente a cada compromisso desfeito, as crianças e adolescentes tendem a se mostrar mais desconfiadas acerca dos adultos.

Em primeiro lugar, as promessas podem resultar do impulso da pessoa mais velha em proteger os pequenos que estão sendo ouvidos. Mobilizado pela gravidade do problema narrado, o adulto pode, equivocadamente, dar garantias de que vai resolver aquela situação, que a vítima não vai mais se encontrar com o agressor ou ser submetida novamente à violência. Nesses casos, por mais boa vontade que se tenha para impedir que a criança ou adolescente continue naquele contexto adverso, podem ser encontradas circunstâncias que complicam a adoção dessas medidas tão necessárias de proteção. Por exemplo, o abusador pode mandar mensagens para a vítima pela internet e lhe fazer ameaças, isso mesmo depois de lhe prometerem que estaria segura e resguardada de qualquer contato com ele. Ou ainda, a família pode se mudar repentinamente para evitar a repercussão da denúncia, fazendo com que a criança ou adolescente continue submetida ao parente agressor, mesmo que outras pessoas tenham declarado que, a partir de seu relato, os abusos iriam parar. 

Em segundo lugar, essas promessas também costumam ser feitas com a intenção de estimular a criança a falar mais sobre os abusos, a detalhar os episódios de violência. Nesses casos, interessada em entender melhor tais acontecimentos, a pessoa que acolhe o relato pode prometer, por exemplo, que é a última vez que a vítima vai falar sobre o assunto. Aqui, apesar da promessa, não há garantias de que outros profissionais, ou mesmo os familiares da criança, irão abrir mão de saber mais sobre as ocasiões em que ela foi agredida. Com esse mesmo objetivo de incentivar a vítima a se sentir mais à vontade e aberta para tratar da situação abusiva, muitas vezes lhe prometem ainda que ninguém vai saber do que está sendo tratado, o que não corresponde à verdade, já que um relato desse tipo tem obrigatoriedade legal de ser comunicado às autoridades.

A grande questão sobre essas promessas é que, quando quebradas, podem fazer a vítima crer que o adulto mentiu para ela. Isso é especialmente complicado quando se considera que o abuso sexual também costuma representar uma quebra de confiança por parte de uma pessoa mais velha, que deveria lhe amparar e proteger. As promessas descumpridas reforçam um ciclo de descrédito das crianças em relação aos mais velhos e são revitimizantes, pois provocam angústia e insegurança com o processo subsequente à revelação. 

Lembre-se que falar de uma experiência tão dolorosa é algo muito difícil. Quem escuta a criança, portanto, deve ser cuidadoso quanto às promessas que faz. O adequado acolhimento da vítima envolve muita atenção para a forma como nos dirigimos a ela. A ideia é que ela se sinta amparada e encorajada para lidar com as etapas que se seguem à denúncia.

Liliane Domingos Martins