Os avanços tecnológicos têm implicações diretas na nossa forma de viver e de estar no mundo. Do mesmo modo, a ampliação da vida digital tem impactado diretamente o modo como nos relacionamos com as outras pessoas. Esses impactos alcançam também os jovens e a maneira como vivenciaram os diversos aspectos da vida em desenvolvimento, inclusive a sexualidade.
Nascidos em uma época em que a vida on-line e a internet fazem parte do cotidiano, os adolescentes da atualidade transitam facilmente pelos ambientes digitais e demonstram grande habilidade na utilização de recursos e ferramentas muitas vezes consideradas muito complexas pelos adultos com menos fluência nesse universo.
Acostumados desde muito pequenos a lidar com a tecnologia, os jovens vivenciam como algo natural a exposição advinda das redes sociais e do compartilhamento de aspectos da vida privada por meio de fotos e vídeos. A exibição pública da vida cotidiana faz parte da lógica de funcionamento das redes sociais, que exalta e valoriza a exposição pessoal, e é nesse contexto que surgem os nudes e os sextings produzidos pelos jovens.
Nude é uma palavra que ficou popularizada na expressão “manda nudes”, que se refere ao pedido para que a pessoa envie fotos pessoais sem roupas. Já a palavra sexting é uma junção da palavra sex (sexo) + texting (torpedo), e que hoje faz referência às trocas de mensagens de caráter erótico e sensual por aplicativos de mensagens, muitas vezes contendo vídeos e fotos.
Nesse aspecto, a diferença geracional, naturalmente observada entre pais e filhos, torna-se ainda mais evidente. De modo geral, os pais percebem os nudes e o sexting como uma superexposição perigosa, constrangedora e de difícil aceitação. Por outro lado, para muitos adolescentes, os nudes são apenas mais uma forma de se relacionar com o outro ou um modo de afirmação pessoal. Muitas vezes, para esse jovem, um nude é entendido como uma forma de reconhecimento entre os pares, de valorização do corpo, de autoafirmação, de experimentação de prazer e autoconfiança que dificilmente é compreendida pelos mais velhos. Assim, os nudes e sextins se configuram como os antigos jogos sexuais da adolescência, mas dentro do universo da internet.
Independentemente do significado que o nude adquire entre os diferentes grupos de adolescentes, essa prática guarda um risco que frequentemente é calculado apenas pelos mais velhos: o perigo da divulgação não autorizada deste conteúdo ou a viralização (perda do controle desse material) na internet. Tal situação, como já visto em inúmeros casos reais, produz um ciclo de estigmatização e culpabilização que gera grande sofrimento aos envolvidos.
Vale registrar ainda que, ainda que consentidos, os nudes produzidos por adolescentes são materiais que não podem circular na internet. O envio, posse ou produção de fotos de adolescentes nus podem caracterizar distribuição, posse e produção de pornografia infantil, o que configura crime.
Por esse motivo, é importante distinguir a habilidade instrumental dos jovens com o uso das tecnologias e da internet, da capacidade de uso crítico e responsável desses recursos. As extensas horas navegando na internet não significam maturidade e capacidade de cálculo dos impactos que as ações praticadas no mundo virtual têm na vida real de cada um.
Assim, meninos e meninas, ainda que muito habilitados para o uso de ferramentas digitais, precisam ser educados para fazer boas escolhas on-line e desfrutar de forma ética e responsável das oportunidades advindas da tecnologia.
Renata Pereira Guimarães