Sempre falamos sobre a violência sexual, do quanto ela é frequente e de como pode ser traumática. Entretanto, existe outro tipo de violência à qual as vítimas de abuso estão sujeitas: a violência institucional.
Violência institucional, também conhecida por revitimização ou vitimização secundária, compreende o sofrimento imposto à vítima a partir dos encaminhamentos e procedimentos relativos à formalização da denúncia. Acontece por meio de abordagens inapropriadas que partem de alguns profissionais que atendem o caso, seja no sistema de saúde, de proteção ou de justiça.
Antes de tudo, precisamos ter em mente o quanto é custoso para alguém que sofreu um abuso sexual tratar desse assunto. Em geral, esse tipo de violência provoca muita angústia, além de sentimentos de vergonha, culpa e medo, o que faz da própria revelação um passo difícil a ser tomado.
Para darmos uma dimensão bem ínfima sobre o contexto que a vítima encontra, imagine que alguém desconhecido te peça para relatar algo de sua vida sexual, publicamente e com detalhes, principalmente se for um momento sexual desagradável ou constrangedor. Descrever onde estava, o que aconteceu, o que o outro fez, como você se sentiu, enquanto vai gravando ou anotando tudo o que você disser. Constrangedor? Suponha então, se tivesse que narrar uma situação de violência mesmo, de alguém que te tocou de uma forma invasiva ou violou seu corpo.
É fundamental que os profissionais que atendem vítimas de violência sexual tenham formação adequada e específica sobre esse assunto. Como se trata de um problema a ser trabalhado em rede, seja no âmbito da proteção da vítima, seja na via da responsabilização do agressor, cada qual deve estar ciente do seu papel dentro do sistema e executá-lo de maneira eficiente e acolhedora. Para isso, tanto profissionais da rede de saúde, como enfermeiros e médicos, quanto profissionais da rede de atenção e proteção, sejam conselheiros tutelares ou profissionais das equipes multidisciplinares de órgãos como CREAS e CRAS, devem buscar conhecimento científico sobre o fenômeno do abuso sexual. Importante também é a adequada formação dos educadores, a quem muitas crianças e adolescentes oferecem os primeiros relatos sobre a violência que sofreram.
Para evitar a revitimização, é preciso que cada profissional compreenda as possibilidade e limites de sua atuação, abordando as possíveis vítimas com práticas adequadas, respeitosas e efetivas.
Cabe ressaltar que a violência institucional pode ser mais nociva e traumática que a própria violência sexual. No que se refere ao problema do abuso, muitos dos atos de revitimização partem de abordagem inadequadas e enviesadas pelos preconceitos dos profissionais que atendem as vítimas. Nesse sentido, faz-se imprescindível distinguir as próprias opiniões, bem como o que circula no senso comum, do conhecimento real e científico necessário na atuação junto aos casos concretos de abuso.
Juliana Borges Naves
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