É complicado aceitar a ideia de que mulheres são capazes de abusar de crianças e adolescentes. De maneira geral, a condição feminina é bastante idealizada na nossa cultura e as mulheres são tidas como frágeis, naturalmente maternais e amorosas. Consequentemente, não são consideradas suspeitas de atos de violência sexual, especialmente em relação a crianças com quem têm vínculo familiar ou de cuidado. 

Embora esse seja um assunto pouco comentado, parte significativa dos abusos sexuais contra crianças e adolescentes é cometida por mulheres. As estatísticas não são precisas, mas estima-se que de 2 a 25% das ocorrências de abuso infantojuvenil envolvam agressoras do sexo feminino. Considerando os casos que chegam a ser denunciados, a prevalência gira em torno de 5%. 

Como é possível imaginar, uma dificuldade ao lidar com o problema é que esses são abusos mais difíceis de detectar. Como mães e cuidadoras têm acesso constante ao corpo da criança nos momentos de higiene, por exemplo, toques abusivos, inseridos nesse contexto, podem passar despercebidos por anos. 

Assim como ocorre com os  agressores do sexo masculino, não há um perfil específico para as autoras de violência sexual. Elas compõem um grupo heterogêneo, com características e motivações variadas para a prática do abuso.

Sobre as agressoras que abusam dos próprios filhos, há as que agem de forma sedutora, estimulando sexualmente a criança sem usar força ou causar sofrimento físico. Nesses casos, a vítima muitas vezes demora a compreender o caráter abusivo da relação, já que a violência sexual se mistura com atos de cuidado e carinho, levando a criança a acreditar que aquela é uma forma natural de interação.

Mas há também as mães que agem de forma cruel e sádica, provocando dor ou humilhação e recorrendo a ameaças para manter a situação em segredo. Nesses casos, tendem a apresentar baixo nível de escolaridade, dificuldade em estabelecer relacionamentos sociais adequados, dependência química ou transtornos mentais.

Temos, ainda, mulheres que cometem violência sexual inicialmente coagidas pelos parceiros mas, com o tempo, passam a abusar de crianças por iniciativa própria.

No que se refere à violência sexual de mulheres contra adolescentes, há aquelas que romantizam o envolvimento e se tornam amantes de rapazes bem mais novos. Essa é uma situação complexa se levarmos em consideração os ideais ligados à masculinidade, que incentivam o homem a corresponder sempre de forma viril quando provocado por uma mulher. Nesse contexto, muitos jovens podem se sentir acuados e obrigados a aceitar o abuso por pressão social. Na mesma lógica, dificilmente serão capazes de admitir abertamente seu sofrimento ou denunciar a situação sexualmente abusiva. 

Juliana Borges Naves