Se em algum momento você se deparar com uma situação em que uma criança ou adolescente conta que foi vítima de um abuso sexual, existem alguns cuidados importantes a serem observados.
Em primeiro lugar, saiba que falar sobre um abuso sexual costuma ser muito desconfortável para a vítima, pois envolve sentimentos de vergonha, culpa e medo. Desse modo, o adulto deve buscar oferecer uma escuta atenciosa e acolhedora, deixando que a criança ou adolescente relate livremente, com suas próprias palavras, o que aconteceu. É fundamental levar em consideração o estágio de desenvolvimento da vítima, que envolve um curso próprio de linguagem e de memória. Crianças possuem uma forma de lembrar as coisas que não é linear, por isso, tendem a apresentar relatos fragmentados, sem sequência temporal e pouco detalhados. O mesmo pode ocorrer com alguns adolescentes.
Cabe ao adulto não fazer “um interrogatório”, com perguntas persistentes sobre o assunto. Por mais que as emoções sejam fortes e surjam muitas perguntas, é importante não duvidar ou desacreditar a fala da criança ou adolescente. Perguntas repetitivas contaminam a fala da vítima e transmitem a ideia de desconfiança sobre o que está sendo relatado.
Durante essa conversa difícil, os momentos de silêncio e de choro devem ser respeitados. Além disso, perguntas e afirmações do tipo: “Por que você não me contou isso antes?”, “Por que você ficava perto de Fulano?”, “Eu te falei que você não devia andar com Cicrano”, “Você devia ter gritado, corrido...”, devem ser evitadas. Esse tipo de observação não traz nenhum benefício e aumenta ainda mais o sentimento de culpa da vítima.
Por fim, quando estiver conversando com uma criança ou adolescente vítima, não faça promessas que você não poderá cumprir. Não diga, por exemplo, “Pode me contar, não vou contar pra ninguém”. Isso não é verdade, uma vez que você terá que tomar providências para proteger a vítima e isso envolve relatar o que aconteceu. Fazer esse tipo de promessa que não pode ser cumprida pode fazer com que a criança/adolescente se sinta enganada ou traída por alguém em quem ela confiou.
Silvia Pereira Guimarães
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