23 de março de 2022Comments are off for this post.

Abuso sexual praticado por adolescentes

A violência sexual, quando praticada por um adolescente ou até mesmo por uma criança, é um assunto complexo e bastante desafiador, uma vez que os limites entre vítima e agressor, muitas vezes, se mostram pouco claros. Ainda assim, estima-se que abusos sexuais praticados por adolescentes correspondem a 30% do total de casos.

Uma das grandes dificuldades nas situações dessa natureza refere-se à necessidade de diferenciar as relações abusivas das atividades sexuais consensuais e exploratórias comuns dessa fase de desenvolvimento. Nesse sentido, as análises devem sempre considerar a situação em particular e diversos pontos devem ser ponderados: a diferença de idade entre os envolvidos, a diferença de poder entre eles, a sofisticação da atividade sexual, o consentimento ou concordância, a existência de violência aberta ou ameaça de violência, dentre outros.

A adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta. Trata-se de uma etapa do desenvolvimento biopsicossocial do sujeito, marcado por grandes transformações, não apenas físicas/biológicas, mas também por processos de mudanças e adaptações psicológicas, familiares e sociais. Assim, o adolescente é um sujeito em franco processo de desenvolvimento e, do ponto de vista legal, é um “sujeito de direitos”. Isso significa dizer que os adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana e lhes devem ser asseguradas todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. 

É importante deixar claro que, ainda que sejam sujeitos de direitos, os adolescentes respondem por seus atos na ocasião em que cometem um crime. No caso de adolescentes, afirma-se que foi cometido um “ato infracional”. Nessas situações, poderão ser aplicadas medidas sócio-educativas diversas: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em estabelecimento educacional.

Entendendo que o adolescente que pratica um abuso sexual pode responder legalmente por seus atos, o grande desafio é caracterizar esse tipo de violência. Para isso, o primeiro ponto que deve ser considerado é a diferença de idade entre os envolvidos. Entende-se que atividades exploratórias da sexualidade são comuns entre jovens da mesma faixa etária, contudo, quando nos deparamos com grandes diferenças de idade (um adolescente e uma criança mais jovem), existe uma maior probabilidade de que a prática não seja uma atividade consensual. Isso também acontece quando verificamos significativa diferença de poder entre as duas partes, ou seja, quando o adolescente tem um status de ser o cuidador dos menores ou possui certa responsabilidade sobre os demais, há grande probabilidade de que a atividade sexual seja de natureza abusiva. 

Outro aspecto a ser considerado é o nível de sofisticação da prática sexual. Atividades exploratórias tendem a ser mais simples, pueris, ingênuas, sugerindo desconhecimento com relação à sexualidade. Já as atividades abusivas tendem a ser mais elaboradas, indicando certo conhecimento sexual. Além disso, vale observar a persistência dos atos. A experimentação sexual da fase da descoberta tende a ser esporádica, eventual. Por outro lado, a repetição e a alta frequência da atividade aparece com maior incidência em práticas de abuso sexual. 

Vale observar ainda como as partes se posicionam frente aquela atividade. É importante entender até que ponto ambos consentiram naquela atividade e levar em conta se houve algum tipo de coação ou ameaça. Ademais, a existência de atos de violência aberta (como agressão física que inflige dor) pode ser indicativa de abuso sexual. 

Deve ser levado em consideração também a experiência da vítima com relação à atividade sexual, ou seja, se seu sentimento acerca do encontro sexual aponta para um abuso, provavelmente não houve consentimento. Além disso, a forma como a atividade foi revelada pode dar pistas sobre o evento. Um exemplo disso são casos que são descobertos porque a vítima apresentou significativas mudanças indicativas de vivência traumática e sofrimento. 

As situações de violência sexual que envolvem adolescentes como agressores devem sempre ser observadas caso a caso, fugindo de conclusões simplistas. Além das dificuldades em delimitar o que configura um abuso, existe a possibilidade de que o jovem agressor seja também uma vítima de violência. Ainda que seja difícil mensurar, alguns estudos apontam que, com frequência, adolescentes agressores sexuais foram vítimas de abusos sexuais, físicos e emocionais. Entender a complexidade da situação é fundamental para a responsabilização adequada, como também para que intervenções e tratamentos sejam administrados, tanto voltados para a vítima quanto para o agressor.  

Silvia Pereira Guimarães

29 de setembro de 2021Comments are off for this post.

Sinais e Sintomas do Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes

Quais os sintomas da violência sexual de crianças e adolescentes? Como eu sei que uma criança foi molestada? Que sinais a vítima dá quando sofreu um abuso sexual? Essas são algumas das perguntas mais comuns sobre o assunto e que afligem os pais que suspeitam que seus filhos passaram por esse tipo de situação.

A estratégia mais básica nesse sentido envolve procurar por condições físicas que possam comprovar a violência. Hematomas na pele, lesões genitais, presença de doenças sexualmente transmissíveis, corrimento, entre outros, são alguns dos fatores que aumentam a suspeita de um abuso. Mesmo assim, sabemos que a maior parte dos abusos sexuais não deixa evidências corporais e alguns deles ocorrem, inclusive, sem o toque na vítima, o que também não deixa marcas. Nessas condições, outros sinais e sintomas devem ser investigados.

De modo geral, crianças e adolescentes molestados dão algum indicativo de que estão vivendo um estresse complicado, com o qual não sabem lidar. Elas podem não conseguir verbalizar sobre essa dificuldade, mas os pais usualmente identificam que há algo errado a partir de alterações no comportamento e humor de seus filhos. Costumam dizer que “ele não era assim” quando percebem que suas crianças e adolescentes estão diferentes em função de algum problema.

As vítimas normalmente são descritas por estarem mais choronas, tristes, isoladas ou quietas. Tornam-se menos brincalhonas e participativas nos momentos em família. Algumas se mostram mais irritadas, agressivas, nervosas, rebeldes, desobedientes ou respondonas. No caso de crianças muito pequenas podem, por exemplo, voltar a fazer xixi na cama, enquanto as mais velhas podem se envolver em condutas autodestrutivas, como o abuso de drogas e bebidas ou a realização de cortes no próprio corpo. Quedas no rendimento escolar costumam ser frequentes e os professores muitas vezes também notam que aquele aluno está se comportando de forma inusual. Buscar informações com a escola, portanto, é recomendável.

Apesar da masturbação aparecer naturalmente em várias etapas da vida desde crianças muito pequenas, ela pode se tornar excessiva naquelas que foram abusadas. Pode ainda aparecer de forma inapropriada àquela idade, por exemplo, como quando a criança introduz objetos ou os dedos na vagina ou ânus.  

Disso tudo que foi dito, o principal é que não existe uma lista de sinais e sintomas que vão ser encontrados em todas as crianças/adolescentes que foram molestados. A maneira como cada vítima reage é muito diferente e o mais importante é que cada pai e mãe fique atento para quando o filho está agindo fora do que é habitual. Esse é o alerta!

Liliane Domingos Martins