Como já falamos aqui por várias vezes, o abuso sexual de crianças é uma realidade extremamente frequente em nossa sociedade. Os dados oficiais do governo, ainda que subnotificados, apontam para um número alarmante de meninas e meninos com idades inferiores a 14 anos vitimados. 

Diante desse quadro, ressaltamos que o conhecimento é o que propicia a adoção de posturas protetivas contra a violência sexual infantojuvenil. Existem dois pontos fundamentais nos quais se baseia o viés preventivo: a educação sexual da criança e o estabelecimento de vínculos de confiança. 

Mas o que isso quer dizer?

Isso quer dizer que é importante que crianças e adolescentes recebam educação sexual desde cedo, de forma adequada e em linguagem apropriada para sua faixa etária. Educação em sexualidade não é falar sobre sexo, mas sim falar sobre o corpo, sobre autocuidado e autoproteção. Quando são ensinados temas como consentimento, desenvolvimento e integridade corporal, a diferença entre toques agradáveis/permitidos e os toques desagradáveis/invasivos, as crianças e adolescentes se tornam menos vulneráveis a violações sexuais. 

Isso significa que tratar a sexualidade como tabu ou como assunto que não pode ser conversado dificulta a proteção dos mais jovens. Quando a criança não conhece o próprio corpo e não se apropria dele, apresenta maior dificuldade em reconhecer uma aproximação abusiva e impor limite. Quando ela conhece seu próprio corpo, tem mais chance de perceber quando sua privacidade está sendo violada e, a partir daí, buscar ajuda, relatar seu incômodo a um adulto de confiança, ou até mesmo reagir àquela situação. 

O segundo ponto fundamental da prevenção ao abuso sexual refere-se ao estabelecimento de vínculos de confiança. Isso aponta para a importância da construção de uma relação de amparo e liberdade entre a criança e o adulto de referência (que pode ser a mãe, o pai, algum familiar ou outra figura protetiva). Trata-se de um relacionamento em que a criança se sente segura para dizer abertamente o que está lhe incomodando, inclusive sobre temas da sexualidade, sabendo que aquele conteúdo será escutado e não castigado ou reprimido. 

Nesse tipo de ligação, o adulto tem a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento da criança, podendo identificar, por exemplo, quando ela está vivendo um momento de angústia e sofrimento. A partir daí, é possível estabelecer um diálogo que lhe permita falar, relatar o que está acontecendo. Cabe ao adulto aprender a escutar a criança sem repreendê-la ou humilhá-la, mas entendendo que aquilo que ela expressa é algo relevante para ela. 

É importante lembrar que, com relativa frequência, abusos sexuais acontecem de forma gradativa, em um crescente de avanços sexuais. Quando a criança tem uma figura de referência a quem ela consegue dividir os acontecimentos do dia a dia e suas dificuldades, em uma situação de uma aproximação inadequada, ela poderá compartilhar seu incômodo mais precocemente, possibilitando que sejam tomadas as providências que irão afastar um provável abusador. Quando a criança não tem um adulto de sua confiança a quem recorrer, ela se torna mais vulnerável a aproximações abusivas.

Por fim, temos que entender que a chave para a proteção das crianças e adolescentes contra as violações sexuais está nas mãos dos adultos. As melhores estratégias preventivas encontram-se na educação sexual que será oferecida à criança e na construção de uma relação de confiança. A via da proteção não é fácil, nem rápida, mas é fundamental. Ela requer conhecimento e sensibilidade. Ela exige tempo e paciência. Ela demanda constância e amor. 

Silvia Pereira Guimarães