É comum as pessoas acharem que não houve abuso sexual quando a criança/adolescente continua demonstrando boa relação com o suposto agressor. Acreditam que toda vítima tem sentimentos de medo, raiva, repulsa, revolta ou outros afetos negativos sobre o abusador. Apesar disso parecer natural e ser esperado pela maioria, é bastante comum que o indivíduo molestado mantenha laços de carinho com o responsável pela violência, especialmente quando há um vínculo familiar entre eles.

Quando o abuso é cometido por um parente e mesmo assim há bom vínculo entre a vítima e seu agressor, é provável que a convivência entre eles seja feliz na maior parte do tempo e a violência se destaque como um dos poucos momentos desagradáveis que estabelecem. Nesses casos, a criança costuma gostar de estar perto do abusador, que se mostra um bom cuidador ou é divertido, brinca com ela e a faz se sentir especial de alguma maneira.

Nos casos de abusos fora da família, a ligação entre a vítima e o agressor pode ter sido intencionalmente criada por este último. Crianças e adolescentes são considerados seres vulneráveis e, por essa condição, costumam receber mais supervisão. Para um abusador conseguir se aproximar delas, portanto, quase sempre é necessário que ele se empenhe em promover uma fachada de simpatia, tornando-se um amigo querido e especial. Isso pode ser conseguido com elogios, presentes, dinheiro, doces ou outras estratégias de manipulação.   

O carinho que a criança muitas vezes sente pelo abusador pode ser usado por ele para conseguir que a vítima se submeta à violência e para garantir o seu silêncio. Isso é possível porque ela gosta dele, não quer vê-lo punido e pode até defendê-lo. Nessa situação, a vítima não quer se afastar do agressor, apenas torce para que os abusos parem. 

Saber dessas questões é importante para que você esteja mais alerta para os riscos referentes ao abuso sexual de crianças e adolescentes. Fica claro sobre o quanto é errado julgar que uma violência desse tipo não ocorreu simplesmente porque as pessoas apontadas como vítima e agressor continuam se dando bem. Esses casos são complicados mesmo e é preciso muito cuidado para analisar os fatos.

Liliane Domingos Martins