16 de março de 2022Comments are off for this post.

Afastando a vítima do agressor

Um dos cuidados mais essenciais ante à confirmação de um abuso sexual deve ser garantir que a vítima seja posta em segurança, a salvo de novos episódios de violência. O objetivo principal desse tipo de medida é o de resguardá-la, assegurando a devida atenção aos seus direitos básicos e impedindo que continue prejudicada quanto a seu bem-estar e desenvolvimento.

A literatura científica sinaliza que abusos que se repetem ao longo do tempo tendem a ser mais impactantes e desorganizadores para aquele que sofre a violência do que as situações que envolvem episódios isolados de vitimização. Além disso, à medida que os episódios se repetem, se tornam gradativamente piores, com condutas cada vez mais invasivas. Em razão disso, afastar a vítima do agressor pode ser algo necessário. 

Considerando a variabilidade dos casos de violência sexual, comumente esse afastamento vai ser sentido pela criança ou pelo adolescente como um alívio, especialmente quando a relação com o abusador é mais traumática. Em outras situações, principalmente nos casos que envolvem abusos intrafamiliares, o agressor pode ser uma figura de apego e referência para a vítima, sendo que o distanciamento em relação a ele deve ser bem analisado e conduzido para não representar um novo abalo emocional.

É nesse ponto que a rede de proteção assume um papel fundamental. É ela que, com profissionais capacitados, avalia o contexto da denúncia para evitar que injustiças sejam cometidas no processo, já que tais questões podem interferir irreversivelmente no vínculo entre a criança e a pessoa apontada como abusiva. A partir dessa verificação, cabe também aos órgãos desse sistema indicar o que é mais recomendável frente às circunstâncias postas, definir as estratégias protetivas mais pertinentes, orientar os familiares e promover apoio psicológico a todos os envolvidos.

Liliane Domingos Martins

8 de setembro de 2021Comments are off for this post.

Quando a vítima gosta do agressor: será que teve abuso sexual mesmo?

É comum as pessoas acharem que não houve abuso sexual quando a criança/adolescente continua demonstrando boa relação com o suposto agressor. Acreditam que toda vítima tem sentimentos de medo, raiva, repulsa, revolta ou outros afetos negativos sobre o abusador. Apesar disso parecer natural e ser esperado pela maioria, é bastante comum que o indivíduo molestado mantenha laços de carinho com o responsável pela violência, especialmente quando há um vínculo familiar entre eles.

Quando o abuso é cometido por um parente e mesmo assim há bom vínculo entre a vítima e seu agressor, é provável que a convivência entre eles seja feliz na maior parte do tempo e a violência se destaque como um dos poucos momentos desagradáveis que estabelecem. Nesses casos, a criança costuma gostar de estar perto do abusador, que se mostra um bom cuidador ou é divertido, brinca com ela e a faz se sentir especial de alguma maneira.

Nos casos de abusos fora da família, a ligação entre a vítima e o agressor pode ter sido intencionalmente criada por este último. Crianças e adolescentes são considerados seres vulneráveis e, por essa condição, costumam receber mais supervisão. Para um abusador conseguir se aproximar delas, portanto, quase sempre é necessário que ele se empenhe em promover uma fachada de simpatia, tornando-se um amigo querido e especial. Isso pode ser conseguido com elogios, presentes, dinheiro, doces ou outras estratégias de manipulação.   

O carinho que a criança muitas vezes sente pelo abusador pode ser usado por ele para conseguir que a vítima se submeta à violência e para garantir o seu silêncio. Isso é possível porque ela gosta dele, não quer vê-lo punido e pode até defendê-lo. Nessa situação, a vítima não quer se afastar do agressor, apenas torce para que os abusos parem. 

Saber dessas questões é importante para que você esteja mais alerta para os riscos referentes ao abuso sexual de crianças e adolescentes. Fica claro sobre o quanto é errado julgar que uma violência desse tipo não ocorreu simplesmente porque as pessoas apontadas como vítima e agressor continuam se dando bem. Esses casos são complicados mesmo e é preciso muito cuidado para analisar os fatos.

Liliane Domingos Martins