2 de março de 2022Comments are off for this post.

A Rede de Proteção de Crianças e Adolescentes

O abuso sexual de crianças e adolescentes é um fenômeno complexo. Por exemplo, os sinais e sintomas se dão de forma variada e individualizada, o que significa que não se conclui que a violência ocorreu apenas pela análise da expressão sintomatológica de alguém. Outro exemplo se dá com a compreensão de que os agressores sexuais não têm um perfil específico, ou seja, não são tão facilmente identificados como muita gente pensa. Essas ilustrações demonstram que não há fórmulas prontas para se falar desse tipo de problema e, portanto, abordagens multidisciplinares são essenciais. É assim que começamos a entender sobre a importância do trabalho e das intervenções em rede.

A rede de proteção à criança e ao adolescente corresponde ao conjunto de órgãos governamentais e não-governamentais que atuam de forma integrada para garantir as melhores condições de atendimento e suporte para esse público. Ela contempla entidades de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça, além de convocar à participação da sociedade civil, por meio das famílias, igrejas, centros comunitários, etc. A ideia é de que, dada a complexidade das situações de negligência e violência, classes profissionais ou serviços isolados são limitados para o adequado amparo que as vítimas necessitam, especialmente aquelas de desenvolvimento incompleto, consideradas vulneráveis. Assim, é necessária a articulação entre esses diversos atores para garantir todos os cuidados exigidos por uma criança ou adolescente vitimizado.

Isso significa que cada criança ou adolescente em nossa sociedade é sempre objeto de atenção por parte de inúmeros grupos profissionais, isso com objetivo de resguardar suas melhores condições de desenvolvimento, reconhecendo-os enquanto indivíduos e buscando mecanismos para mantê-los a salvo de todo desrespeito. Na prática, frente a uma denúncia de abuso sexual revelada na escola para um professor, por exemplo, diversos outros profissionais são acionados, como o diretor da instituição de ensino, um conselheiro tutelar para receber e encaminhar a denúncia, o delegado para investigar, o médico para avaliar as condições físicas daquela vítima e propor tratamento, o psicólogo para avaliar e lidar com as condições mentais da criança, etc. 

O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA) é o nome oficial da rede de proteção brasileira. Surgido em 2006 a partir da Resolução 113 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), esse sistema sustenta que os diversos atores que o compõem devem adotar práticas integrativas segundo três eixos específicos: o de defesa, o de promoção de direitos e o de controle social. 

O primeiro deles, o eixo de defesa, é voltado à viabilização do acesso à Justiça e à  adequada responsabilização de ofensores em situações de violação de direitos. Dedica-se, portanto, a exigir a aplicabilidade das leis e envolve órgãos como o conselho tutelar, as polícias militar e civil, as varas de infância, entre outras entidades. 

O eixo de promoção de direitos responsabiliza-se pela implementação de programas, políticas e serviços que assegurem os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Seu foco, portanto, direciona-se a ações com vistas a garantir que crianças e adolescentes de determinada comunidade tenham amplo acesso à educação, saúde, segurança, lazer, etc. Seus atores envolvem as creches e escolas, postos de saúde, centros esportivos, CRAS e CREAS, entre outros.

O eixo de controle social prevê a avaliação, o acompanhamento e a fiscalização das estratégias anteriormente citadas. Abrange atividades com objetivo de verificar as condições de funcionamento das entidades destinadas à proteção integral de crianças e adolescentes, a formulação de resoluções, normas técnicas ou diretrizes para esses serviços e o monitoramento quanto à qualidade dos trabalhos que oferecem. Para tal, os conselhos de direitos assumem papel central. 

De modo geral, o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente fortalece os diversos órgãos de sua rede, o que significa melhorias relevantes na sociedade acerca de ameaças e violações contra nossos pequenos. É importante conhecer como os serviços funcionam em sua cidade, para indicá-los aos membros de sua comunidade que necessitam de apoio e para cobrar qualquer tipo de omissão pública. Fique atento!

Liliane Domingos Martins

23 de fevereiro de 2022Comments are off for this post.

Conhecimento é Proteção

Você sabia que na maior parte dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes o agressor é um conhecido da família? Acredita que abusos sexuais podem acontecer mesmo na presença de outras pessoas? Já te contaram que algumas vítimas continuam demonstrando apego por seu ofensor mesmo detestando os abusos? Ou que alguma situações de abuso são disfarçadas como um cuidado ou carinho, causando dúvidas até em adultos sobre o que realmente aconteceu? 

Essas, entre outras perguntas, envolvem aspectos que causam ansiedade nos pais e que são complicados de assimilar até mesmo para quem trabalha com crianças e adolescentes. Falar em abuso sexual é sempre impactante e o grande problema disso é que nossa mente muitas vezes cria defesas que dificultam a aceitar, por exemplo, uma revelação de abuso, que aquele grande amigo é um abusador ou que certas demonstrações de afeto que você tem com o seu filho são inapropriadas e o expõe a riscos.

Quando se fala na violência sexual contra crianças e adolescentes, há muitos mitos, preconceitos e confusões sobre a realidade das coisas e sobre as melhores estratégias de prevenção. Além do mais, falar de sexualidade e dos perigos do mundo costuma ser bastante constrangedor para os pais no diálogo com seus filhos. Sabemos disso!

A melhor estratégia para lidar com toda essa problemática é investir em conhecimento. Em qualquer entrave que temos na vida, fica mais fácil resolver quando a gente se sente preparado. Muito da sensação de angústia sobre o abuso sexual se desfaz quando você encontra a informação certa para o seu filho, que considera a idade dele e o perfil da sua família. Bons conteúdos te capacitam também para tomar decisões em casa que auxiliam as crianças e as adolescentes a se protegerem no mundo, como no que diz respeito à nudez, aos hábitos quanto ao banho, crianças dormindo na mesma cama dos pais ou suas reações quando encontrar um filho se masturbando. Todas essas são situações com as quais qualquer pessoa que tenha uma criança ou adolescente por perto pode acabar se deparando e é necessário estar preparado para isso.

Se informe mais, pesquise, faça cursos, leia livros, converse com profissionais e dedique-se a ter cada vez mais conteúdo sobre a violência sexual de crianças e adolescentes. Lembre-se que CONHECIMENTO É PROTEÇÃO e que, por isso, está em suas mãos um amplo número de possibilidades para deixar seu filho mais seguro.

Liliane Domingos Martins