14 de outubro de 2020Comments are off for this post.

A importância dos professores na luta contra o abuso sexual

Sabemos que o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes deve ser um compromisso de toda a sociedade. A escola, como espaço de formação e desenvolvimento integral do sujeito, também ocupa lugar importante na ampla rede comprometida com a proteção de crianças e adolescentes.

Por fazerem parte do cotidiano dos alunos, os membros da comunidade escolar como um todo, em especial os educadores, direta ou indiretamente, têm acesso a vários aspectos da vida familiar deles. Nesse sentido, não é raro que as dificuldades e problemas enfrentados por crianças e adolescentes junto a suas famílias, encontrem expressão dentro da escola.

Quando se trata da vitimização de crianças e adolescentes, sabemos que a maior parte dos abusos sexuais são do tipo “intrafamiliar”, portanto, acontecem no ambiente doméstico. Além disso, apesar de existirem casos em que o episódio abusivo ocorre uma única vez, a tendência é que, caso não haja algum tipo de intervenção externa, esta situação volte a se repetir.

Por esses motivos, os professores são peças-chave na interrupção de ciclos de violência no contexto familiar. O silencioso sofrimento de crianças e adolescentes abusados sexualmente pode ser sinalizado na escola, das formas mais diversas: como uma mudança abrupta no comportamento, retraimento, tristeza, choro sem motivo, quedas bruscas no rendimento e/ou frequência escolar, dificuldade de concentração, comportamento sexual incompatível com a idade, dentre inúmeras outras formas.

Professores capacitados têm melhores condições de lidar com esse tema, reconhecer e identificar sinais de abuso sexual em crianças e adolescentes. Em razão dos conhecimentos que possuem acerca do desenvolvimento infantil, eles têm facilidade de se comunicar com as crianças e de reconhecer os elementos que fogem ao padrão evolutivo esperado naquela faixa etária.

Além disso, por serem figuras de referência na vida de muitos jovens, algumas vezes, os professores acabam sendo escolhidos como “adulto de confiança” de alguma criança ou adolescente. Ou seja, aquele estudante entende que o professor é uma pessoa em quem ele pode confiar, falar como está se sentindo e lhe confidenciar um problema. Nesse caso, é importante acolher o aluno e tomar as atitudes necessárias para o enfrentamento da situação.

Quando a comunidade escolar entende a dimensão do problema, de que forma acontece e como se manifesta, passa a adotar uma postura menos passiva em relação a este tema. Tal atitude envolve, primeiramente, a implementação de práticas preventivas como a educação em sexualidade e a orientação acerca de habilidades de autoproteção junto aos alunos. Além disso, envolve a capacidade dos educadores em reconhecerem os sinais de abuso sexual e de abordarem adequadamente esse problema tão complexo.

É preciso deixar claro que o compromisso com a proteção de nossos pequenos não pode ser uma escolha solitária de alguns educadores, mas sim um posicionamento conjunto, coletivo, onde todos estão unidos em um único foco: a luta contra o abuso sexual de crianças e adolescentes.

Silvia Pereira Guimarães

16 de setembro de 2020Comments are off for this post.

Educação Sexual para Crianças e Adolescentes

Crianças e adolescentes devem ter informações de qualidade sobre sexualidade, adequadas ao seu nível de desenvolvimento e faixa etária. Quando a família não dá essa orientação, deixa espaço para que recebam informações pobres e distorcidas, como aquelas que ouvem na conversa com colegas ou que assistem na mídia. Sem essa base, eles também ficam mais suscetíveis a repetir ideias e valores incompatíveis com os da família. Mas, o pior de tudo, é que quando desconhecem o tema, eles se tornam alvos fáceis para abusadores, que aos poucos introduzem noções sobre sexo, isso de uma forma que somente alcança seus próprios interesses. Há agressores que que se aproveitam da falta de compreensão de crianças e adolescentes sobre o assunto para saciar a curiosidade sexual delas ao mesmo tempo em que as alicia. 

Para ajudar com o diálogo, os adultos devem buscar informações sobre como explicar questões sobre sexualidade para cada idade de seus filhos e ter claro que esse conhecimento é fundamental para que se protejam.

As crianças mais novas, de até 4 anos de idade, devem ser ensinadas, o quanto antes, a reconhecer e nomear todas as partes do corpo. Além disso, devem entender que algumas dessas partes são íntimas e só devem ser tocadas por outras pessoas em situações onde precisam de ajuda, como no banho, quando vão trocar de roupa ou precisam ser examinadas por algum médico, por exemplo. Com elas podem ser trabalhadas noções sobre o funcionamento de alguns órgãos do corpo, como por exemplo, aqueles que são usados para fazer xixi ou cocô. As diferenças físicas entre meninas e meninos, homens e mulheres também podem ser introduzidas. 

A partir dos 5 anos, os pais podem começar a ser confrontados com perguntas mais complexas e devem estar abertos para oferecer esclarecimentos de forma honesta. No diálogo, a linguagem deve ser ajustada para ser compreendida por esses pequenos, mas é recomendável evitar alusões, como a história da cegonha ou do repolho. Nessa idade, as crianças já podem receber noções sobre: a gestação e como toda pessoa nasce; relações de namoro, casamento e a época certa para cada coisa; as diferenças entre toques que são de carinho e adequados em relação àqueles que são ruins e abusivos; a nudez e os limites da exposição de seu corpo, seja em casa, na rua ou na internet; e como reagir em situações de desconforto com o contato físico de outras pessoas. 

Dos 12 anos em diante, a adolescência traz demonstrações mais frequentes de curiosidade e interesse por sexo, mas, obviamente, essa ainda é uma fase de descobertas, sem a maturidade do exercício sexual adulto. Nessa fase, deve-se discutir com os jovens temas como: suas mudanças corporais e como o ritmo de desenvolvimento é diferente para cada pessoa; o uso de contraceptivos e a gravidez; o risco de doenças sexualmente transmissíveis; as várias identidades e orientações sexuais; sexting e a exposição do próprio corpo na internet; a responsabilidade mútua de garotos e garotas com as práticas sexuais; e a necessidade de consentimento para qualquer atividade sexual. 

Os pais normalmente sentem vergonha em conversar sobre sexualidade com seus filhos e acabam sem saber o que falar ou como falar do assunto. Isso deve ficar mais simples, agora que mostramos um pouco de como fazer isso. O importante é não desistir e, se você chegou até aqui, está no caminho certo, buscando meios para facilitar essa comunicação. Saiba que sua dedicação para abordar a sexualidade com seu filho ajuda a criar um vínculo de confiança entre vocês ao mesmo tempo em que o deixa mais protegido.

Liliane Domingos Martins

31 de agosto de 2020Comments are off for this post.

Violência, abuso ou exploração sexual? O que é cada um?

Afinal, que expressão usar? Ouvimos referências aos termos “abuso”, “exploração” e “violência sexual” como se fossem a mesma coisa e isso gera alguma confusão. Vamos tentar aqui torná-los mais precisos. 

Violência sexual é um conceito mais amplo, que inclui os dois outros termos: o abuso sexual e a exploração sexual. Dentro da ideia de violência sexual, portanto, temos o abuso e a exploração, sendo que ambos envolvem a utilização de crianças ou adolescentes como objetos para satisfazer interesses sexuais de adultos ou de pessoas com maior grau de maturidade.

A diferença entre o abuso sexual e a exploração sexual é que o primeiro termo refere-se a todo ato ou jogo sexual que alguém mais velho faz com uma criança ou adolescente. Isso abrange qualquer estimulação erótica ou incitação do adulto em relação à vítima, envolvendo desde comentários inapropriados, mostrar material pornográfico, realizar ou solicitar toques em suas partes íntimas até os toques indevidos em seu corpo, sexo oral e penetração. A exploração sexual é quase a mesma coisa, mas, nesse caso, tais atividades eróticas ocorrem em troca de remuneração ou de outra forma de compensação, seja para a vítima ou para terceiros. Isso acontece, por exemplo, quando alguém se beneficia financeiramente da situação ou quando o agressor oferece presentes ou dinheiro à vítima em troca do contato sexual.

Seja qual for o caso, o que é necessário ficar bastante claro é que o envolvimento íntimo de adultos com crianças ou adolescentes sempre é errado e pode trazer consequências negativas muito graves e até mesmo permanentes para a vítima. Em caso de suspeita, não hesite: denuncie!

Juliana Borges Naves

31 de agosto de 2020Comments are off for this post.

O “Radarzinho” do Desconforto e o Abuso Sexual de Crianças

É comum que crianças vítimas de violência sexual comuniquem ter sentido um desconforto com a abordagem do agressor. Podem não saber explicar muito bem, mas, quando revelam o abuso, dizem ter percebido que aquilo não parecia certo. Essa sensação pode se misturar com muita dúvida quando esse contato é apresentado pelo abusador como uma forma de carinho ou uma brincadeira. Apesar da confusão que sentem, é importante que os pais estejam atentos para ensinar seus filhos a confiarem em seus instintos e nessa sensação de que há algo errado em alguns tipos de contato físico. 

Toda criança pode aprender a ligar esse “radarzinho” sobre situações sexualmente abusivas. Sobre isso, a grande dúvida é: como fazer para que esse mecanismo interno funcione bem? A resposta envolve ensinar aos filhos algumas estratégias para que reconheçam e reajam a qualquer incômodo que o toque de terceiros provoque neles. 

Nesse exercício, é importante que os pais compreendam que as demonstrações físicas de afeto por parte da criança precisam ser espontâneas. Ela deve ser desobrigada a dar beijos ou abraços em qualquer pessoa quando não tem vontade de fazer isso. Do mesmo modo, toda criança deve ser incentivada a se opor quando a aproximação física de alguém lhe causar vergonha ou dor. Ela deve ser autorizada a explicar para a tia que acha desagradável quando ela lhe aperta as bochechas ou a dizer “NÃO” para um tio que lhe abrace de uma forma estranha. 

Longe de parecer falta de educação, esses cuidados ajudam a criança a entender que o corpo dela e suas impressões devem ser sempre respeitados. A ideia é que ela esteja alerta, que saiba reconhecer quando algo errado acontece e que tenha confiança no apoio dos pais para contar sobre qualquer sensação ruim que experimentar.

Liliane Domingos Martins

31 de agosto de 2020Comments are off for this post.

Os 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA no Brasil

No dia 13 de julho de 2020, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA completou 30 anos de luta pela defesa dos direitos de crianças e jovens do Brasil. Ao longo desses anos, muitos desafios foram e continuam sendo enfrentados, mas, sem dúvida, esse é um marco importante e que merece ser comemorado. 

 O ECA é um conjunto de leis que estabelece a proteção dos indivíduos nessas duas etapas da vida: na infância (de zero a 12 anos) e na adolescência (dos 12 aos 18 anos). A criança e o adolescente saem da condição de submissão ao poder familiar e passam a ser considerados sujeitos de direitos, sendo reconhecida a condição peculiar de desenvolvimento em que se encontram. Com o ECA, a proteção e a garantia dos seus direitos passam a ser prioridade e dever da família, da sociedade e do Estado. Desse modo, quem passa a responder pelas violações de qualquer natureza sofridas pelas crianças e pelos adolescentes são as famílias, o Estado e toda a sociedade, pois são eles que devem garantir proteção aos menores.

Para você entender o quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente é importante, basta saber que foi ele quem apresentou as bases para a construção das políticas públicas voltadas para a infância e adolescência; determinou responsabilidades e obrigações para as famílias, a comunidade e os Poderes Públicos; possibilitou a criação dos Conselhos Tutelares e das Varas da Infância e Juventude; deu origem a programas e serviços de enfrentamento à violência, maus tratos, abusos, exploração sexual e trabalho infantil; ampliou o acesso à escola pública no país; possibilitou a redução da mortalidade infantil, dentre outros. 

Apesar dos avanços obtidos a partir do ECA, milhões de crianças e adolescentes brasileiros ainda vivem em situação de risco e vulnerabilidade, e precisamos avançar muito na prevenção de todas as formas de violência. Além disso, estima-se que a pandemia do novo coronavírus poderá agravar ainda mais o quadro de vulnerabilidade social desses menores. 

Nesse sentido, temos um longo caminho até que a dignidade humana, a vida, a liberdade, a saúde e os direitos de todas as crianças e adolescentes do país sejam respeitados. 

Ainda assim, reconhecemos que as conquistas do ECA foram muitas, devem ser celebradas e, principalmente, precisam ser ampliadas. Hoje, por exemplo, o Instituto Alexis só pode existir porque os fundamentos do ECA existem e porque somos parte de uma sociedade que acredita que a proteção das crianças e adolescentes é uma prioridade absoluta. Essa é a força que nos move! Vamos juntos!

Silvia Guimarães