11 de novembro de 2020Comments are off for this post.

Difícil, mas importante: muitos famosos sofreram violência sexual

A gente sabe que revelar um abuso sexual é uma tarefa complicada. Vergonha, culpa, constrangimento, além do medo de ser julgada ou ridicularizada fazem com que muita gente mantenha a vitimização em segredo por anos, senão por toda a vida. O sentimento de injustiça e solidão acompanha muitas das vítimas, que podem se ver marcadas de forma definitiva pelo sofrimento. 

Em meio a essas dificuldades, as revelações de celebridades quanto a terem sido molestadas na infância podem ser importantes exemplos para outras vítimas. Saber que o abuso não é capaz, por si só, de destruir a vida de alguém faz com que outras pessoas que também passaram pelo problema se sintam aptas a superá-lo e estimuladas a dividirem sua dor.

Gente como Xuxa, Luana Piovani, Marcelo Adnet, Marilyn Monroe, Axl Rose, Oprah Winfrey, Queen Latifah, Rita Lee, Luiza Brunet, Joanna Maranhão, Cláudia Jimenez, Pamela Anderson, José de Abreu, Pitty, Monique Evans, Letícia Sabatela, Sinead O’Connor, Cindy Lauper, Ashley Judd, Annalynne McCord, Samantha Morton, Vanessa Williams, Teri Hatcher, Hellen Mirren, Dylan Allen e Fiona Apple revelaram ter sofrido violência sexual na infância. Já Madonna e Lady Gaga foram vitimizadas quando adultas. 

São relatos difíceis, mas que escancaram o problema da violência sexual e incentivam muitos a não mais sofrerem calados. Da nossa experiência junto a casos concretos, vemos que muitas vítimas se fortalecem e ganham coragem para a denúncia vendo esse assunto na mídia, seja no depoimento de alguém famoso, seja quando séries ou novelas retratam esse tema.

Nesse sentido, campanhas online ou movimentos que visam conscientizar sobre o abuso sexual e estimular a troca de experiências como o “Me Too”, “Meu Amigo Secreto”, “Meu Primeiro Assédio”, “Mexeu com Uma, Mexeu com Todas”, dentre outros, também são importantes para mostrar a dimensão dessa questão e trazer apoio às vítimas.

Pouco a pouco, a sociedade tem construído um olhar mais realista sobre a violência sexual, um problema comum que atinge cerca de 20% das meninas e 10% dos meninos. Cada vez menos cabe culpabilizar a vítima pela violência, o que, venhamos e convenhamos, não faz o menor sentido. Ninguém ousa dizer que alguém merece ser roubado porque sai com um veículo caro na rua ou que tudo bem alguém tomar seu sanduíche no shopping porque estava com fome. Quando se diz que uma vítima mereceu a violência em razão de seu comportamento, de sua vestimenta ou de sua inocência, é esse tipo de explicação absurda que se tenta dar. Em qualquer contexto, esse é um raciocínio que não se aplica. Quem age contra os bens, contra o corpo ou contra a honra de alguém pode e deve ser responsabilizado, de forma pessoal e exclusiva, pelo seu ato.

Juliana Borges Naves

4 de novembro de 2020Comments are off for this post.

Por que é tão difícil acreditar que crianças podem ser abusadas sexualmente?

Falar sobre abuso sexual de crianças e adolescentes é sempre algo muito delicado e que envolve uma série de dúvidas, angústias e medos. Às vezes sentimos um incômodo, um certo mal-estar, ou ainda uma vontade grande de mudar de assunto. Isso fica ainda pior quando falamos de abuso sexual praticado por alguém da família ou envolvendo crianças muito pequenas.

Como esse assunto é desconfortável e, por vezes, assustador, uma reação comum das pessoas é tentar afastar a ideia e pensar que isso só acontece “com os outros”, “na família dos outros” ou ainda que é algo que “acontece pouco”, já que raramente ficamos sabendo de uma criança que foi molestada sexualmente em nosso meio. Ou seja, é como se esse assunto tão difícil ativasse uma defesa psicológica diante de algo que pode causar grande sofrimento.

Além disso, na nossa sociedade existem uma série de mitos e crenças erradas que trazem informações que não são verdadeiras, reforçando a reação psicológica de afastar as ideias que incomodam. Fazem parte desses mitos acreditar que os abusos sexuais de crianças raramente acontecem; que abusos sexuais acontecem somente em “famílias desestruturadas” ou que convivem com “coisas erradas”; que apenas crianças pobres ou sem família sofrem violações sexuais, etc.

Apesar das pesquisas e da literatura da área mostrarem que essas crenças não correspondem à realidade, muitas dessas ideias continuam existindo. É importante saber que abusos sexuais são comuns e frequentes (as estatísticas variam segundo a fonte), contudo, se trata de um tema tabu que é pouco falado, pouco denunciado e que pode permanecer guardado com a vítima por muito tempo. Além disso, as violações sexuais não acontecem apenas em alguns tipos de comunidades, culturas ou classes sociais. Também não acontecem apenas em “famílias desestruturadas”. Na verdade, os abusadores sexuais são espertos e podem estar em qualquer espaço social, muitas vezes se tornam amigos dos pais e das crianças, circulam em ambientes respeitáveis e podem ter comportamentos acima de qualquer suspeita.

Enquanto ficamos presos na ideia de que as crianças próximas a nós estão fora de perigo e que abuso sexual é coisa rara porque quase não é falada, acabamos por ignorar os riscos e as vulnerabilidades existentes na nossa própria comunidade e família. Desfazer desse tipo de crença é importante para se obter informações em fontes seguras e que, de fato, ajudem a proteger as crianças. Para isso, é necessário enfrentar o desconforto causado pelo assunto e buscar informações sérias, que não reforcem o sensacionalismo e o medo.

Silvia Pereira Guimarães

28 de outubro de 2020Comments are off for this post.

O fenômeno da retratação

Não é incomum que uma vítima volte atrás em seu depoimento, alegando que estava mentindo quando mencionou ter sido sexualmente abusada. Essa situação costuma tranquilizar a família, que se imagina livre do fantasma da violência sexual. No entanto, é preciso cautela, pois o fato de que uma criança ou um adolescente desminta sua primeira versão - o que se conhece tecnicamente como fenômeno da retratação - não necessariamente  indica que se tratava de uma situação inverídica.

Imagine que um adolescente ou uma criança próxima a você conte de uma cena sexual provocada por um amigo ou alguém da família. O que se segue é uma crise imensa. Junto com a preocupação com o sofrimento que ela deve estar passando, podem surgir muitas dúvidas e vários questionamentos: “Em que momento aquilo poderia ter ocorrido? Eles costumavam ficar sozinhos? Mas a criança/adolescente sempre o tratou bem … Não seria esperado que o repelisse, nesse caso? Mas por que não contou naquele mesmo dia… porque demorou tanto pra falar? Aliás, na ocasião em que disse que aconteceu o abuso, a família toda estava lá. Ninguém viu nada?” 

Na tentativa de esclarecer a situação, é bem comum que muitas perguntas ou comentários sejam feitos à vítima, como: “Mas você tem certeza? Será que não se enganou? Às vezes ele só estava brincando com você… Ele é desse jeito mesmo.” Ou ainda pior: “Por que você não contou antes? Por que não fez nada? Já falei pra você tomar cuidado... por que não saiu de perto dele na hora?” 

Agora, tente se colocar no lugar dessa vítima. Você sente que não acreditam tanto em você e percebe que o relato do abuso causou muito conflito. As pessoas andam nervosas e preocupadas, estão brigando. Além disso, quem mexeu com você talvez seja preso e pode ser que a família passe por dificuldade, pois ele é quem sustenta a casa. Você não desejava acabar com a família, só queria que aquilo parasse e acredita que agora vai ser deixado em paz. Além do mais, você não aguenta mais falar desse assunto. Depois do que contou, já repetiu a mesma história várias vezes: para sua mãe, para sua avó, para a tia, depois no Conselho Tutelar, na Delegacia, na psicóloga... toda hora tem que falar de novo e isso te incomoda. Talvez o melhor fosse você dizer que estava mentindo. Assim, fica todo mundo bem e ninguém te culpa de nada. 

Esse exercício, dá uma pequena dimensão do quanto é complicado para a vítima sustentar sua versão sobre o que lhe aconteceu. Trata-se de um assunto íntimo, traumático, que envolve não só a vida dela, como também a estabilidade dos laços familiares. 

Abordagens inadequadas diante de um relato de abuso são muitas vezes desastrosas. Primeiro, porque aumentam o sofrimento da criança ou do adolescente e podem inclusive agravar os sintomas psíquicos ou comportamentais decorrentes da própria violência sexual. Depois, porque desencorajam a vítima a manter seu relato, dificultando, inclusive a punição do agressor.

Juliana Borges Naves

21 de outubro de 2020Comments are off for this post.

Respeito aos mais velhos SIM. Respeito aos mais novos TAMBÉM!

Toda criança é ensinada a respeitar aos mais velhos, o que é mesmo algo muito importante. Talvez seja complicado aceitar, mas, dentro do assunto, você precisa entender que o respeito aos adultos não deve ser incondicional ou a criança pode ficar mais suscetível a abusos. Vamos te explicar a razão disso!

A criança que é educada a sempre obedecer os adultos, torna-se um alvo fácil para molestadores, pois, percebe-se obrigada a se submeter a qualquer coisa que ele lhe mandar fazer. Nesses casos, é mais difícil a vítima reagir ou avisar para alguém se uma pessoa mais velha pedir para que tire a roupa, mande fotos pelada, lhe faça carícias, entre outros exemplos. Ela não foi preparada para reconhecer que adultos também fazem coisas indevidas e que pode dizer “NÃO” a essas situações.

Para que seu filho não se torne passivo como nesse exemplo, incentivamos a educá-lo para se manifestar sempre que se sentir desconfortável com qualquer pessoa. A ideia não é que ele seja mal educado, mas, que seja capacitado para explicar ou negar quando um adulto lhe faz carinhos de que não goste por serem excessivos, dolorosos ou porque lhe deixam com vergonha.    

É certo que, no geral, os adultos são aqueles que auxiliam os nossos pequenos com os problemas cotidianos, mas as crianças devem ser ensinadas de que todo mundo merece respeito e com elas isso não pode ser diferente. O respeito deve funcionar em uma via de mão dupla e não é por ser mais nova que ela pode ser tratada com menos consideração. 

Liliane Domingos Martins

14 de outubro de 2020Comments are off for this post.

A importância dos professores na luta contra o abuso sexual

Sabemos que o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes deve ser um compromisso de toda a sociedade. A escola, como espaço de formação e desenvolvimento integral do sujeito, também ocupa lugar importante na ampla rede comprometida com a proteção de crianças e adolescentes.

Por fazerem parte do cotidiano dos alunos, os membros da comunidade escolar como um todo, em especial os educadores, direta ou indiretamente, têm acesso a vários aspectos da vida familiar deles. Nesse sentido, não é raro que as dificuldades e problemas enfrentados por crianças e adolescentes junto a suas famílias, encontrem expressão dentro da escola.

Quando se trata da vitimização de crianças e adolescentes, sabemos que a maior parte dos abusos sexuais são do tipo “intrafamiliar”, portanto, acontecem no ambiente doméstico. Além disso, apesar de existirem casos em que o episódio abusivo ocorre uma única vez, a tendência é que, caso não haja algum tipo de intervenção externa, esta situação volte a se repetir.

Por esses motivos, os professores são peças-chave na interrupção de ciclos de violência no contexto familiar. O silencioso sofrimento de crianças e adolescentes abusados sexualmente pode ser sinalizado na escola, das formas mais diversas: como uma mudança abrupta no comportamento, retraimento, tristeza, choro sem motivo, quedas bruscas no rendimento e/ou frequência escolar, dificuldade de concentração, comportamento sexual incompatível com a idade, dentre inúmeras outras formas.

Professores capacitados têm melhores condições de lidar com esse tema, reconhecer e identificar sinais de abuso sexual em crianças e adolescentes. Em razão dos conhecimentos que possuem acerca do desenvolvimento infantil, eles têm facilidade de se comunicar com as crianças e de reconhecer os elementos que fogem ao padrão evolutivo esperado naquela faixa etária.

Além disso, por serem figuras de referência na vida de muitos jovens, algumas vezes, os professores acabam sendo escolhidos como “adulto de confiança” de alguma criança ou adolescente. Ou seja, aquele estudante entende que o professor é uma pessoa em quem ele pode confiar, falar como está se sentindo e lhe confidenciar um problema. Nesse caso, é importante acolher o aluno e tomar as atitudes necessárias para o enfrentamento da situação.

Quando a comunidade escolar entende a dimensão do problema, de que forma acontece e como se manifesta, passa a adotar uma postura menos passiva em relação a este tema. Tal atitude envolve, primeiramente, a implementação de práticas preventivas como a educação em sexualidade e a orientação acerca de habilidades de autoproteção junto aos alunos. Além disso, envolve a capacidade dos educadores em reconhecerem os sinais de abuso sexual e de abordarem adequadamente esse problema tão complexo.

É preciso deixar claro que o compromisso com a proteção de nossos pequenos não pode ser uma escolha solitária de alguns educadores, mas sim um posicionamento conjunto, coletivo, onde todos estão unidos em um único foco: a luta contra o abuso sexual de crianças e adolescentes.

Silvia Pereira Guimarães

7 de outubro de 2020Comments are off for this post.

Quem é o abusador sexual?

Diante dessa questão incômoda, muita gente formula hipóteses, tentando entender o que leva um adulto a abusar sexualmente de crianças e adolescentes. Como a maior parte das pessoas tem horror a se imaginar fazendo algo assim, acaba concluindo que o abusador é alguém muito diferente delas. Consequentemente, vemos que é comum a preocupação com pessoas estranhas, socialmente mal adaptadas, andarilhos, sujeitos solteiros ou gente com orientação sexual diferente. A construção dessa imagem de agressor traz alívio, pois é fácil ensinar as crianças a se manterem alertas a indivíduos com essas características. Mas essa é uma falsa segurança. Na verdade, os abusos violentos que vemos na mídia, cometidos por estranhos, são uma parte pequena desse problema. Na contramão do senso comum, cerca de 90% dos atos de violência sexual contra crianças e adolescentes partem de pessoas próximas e que contam com a confiança da família.

A predisposição para abusar de crianças é uma característica particular e íntima, que nada tem a ver com o modo como essa pessoa se apresenta no meio social. O abusador geralmente compreende que o abuso é errado e que causa repulsa nas pessoas, por isso age de forma a não levantar suspeitas.

A maior parte dos autores de violência sexual contra crianças têm perfil social aceitável e se comporta de maneira amável e generosa. Eles costumam ter trabalho fixo, família e podem ser religiosos e respeitados na comunidade. Essa conduta aparentemente impecável facilita que tenham a confiança da família e ganhem acesso à vítima.

Embora muitos estudos busquem características comuns a esses agressores, não é possível determinar um perfil único de abusador. O que se sabe é que não há uma causa específica para o comportamento sexualmente abusivo. Ele se dá por diferentes motivações e de formas diversas.

Temos, é claro, abusadores com transtornos mentais, que atuam de forma impulsiva em crimes violentos. Apesar disso, a maior parte dos agressores sexuais não apresenta nenhum diagnóstico psiquiátrico definido.

Há os que abusam com frequência e fazem centenas de vítimas ao longo do tempo. Mas há também os que agem de modo pontual e se envolvem com uma única criança ou adolescente por algum motivo específico. Existem os que sentem atração exclusiva por crianças e outros para quem a violência sexual é apenas um dos comportamentos abusivos entre vários atos ilegais que cometem.

Considerando a diversidade dos agressores, a melhor forma de prevenção não é orientar as crianças ou os jovens a manterem distância de estranhos, mas oferecer condições para que possam detectar abordagens sexualmente abusivas em qualquer contexto.

Juliana Borges Naves

23 de setembro de 2020Comments are off for this post.

6 motivos que fazem alguém duvidar do relato de uma vítima de abuso sexual


São vários os motivos que podem trazer dúvida para a pessoa que escuta um relato envolvendo uma criança que foi sofreu abuso sexual. Cada caso é sempre particular, mas, ainda assim, podemos falar de alguns possíveis motivos para isso:


1 – Mecanismo de defesa: diante de uma informação muito difícil e que pode causar sofrimento, sem perceber ou mesmo sem querer, a pessoa que recebe a notícia tenta afastar aquela ideia e se convencer de que aquilo não existe. Isso pode acontecer com o adulto que está tendo contato com um relato de abuso sexual infantil. Assim, esse adulto pode criar diversos argumentos para se convencer de que aquilo que escutou não aconteceu, que é apenas uma confusão, fantasia ou mentira da criança, etc.


2 – Capacidade de relatar o abuso: a forma de contar uma situação de abuso sexual depende do nível de desenvolvimento da vítima. A evolução da linguagem, do pensamento e da memória variam de acordo com a idade. Além disso, fatores individuais e do ambiente influenciam muito na aquisição dessas habilidades, o que traz um potencial diferente em
cada criança e adolescente para entender como a situação abusiva aconteceu e relatá-la. Quando o adulto desconhece esses fatores de desenvolvimento, pode não acreditar no relato de uma criança/adolescente porque não entende que aquela é a forma de expressão possível para a vítima.


3 – Ausência de violência física: muitas vezes, o abuso sexual não envolve nenhum tipo de agressão e é praticado disfarçado de carinho ou brincadeira, ou ainda como se fosse algo natural que as pessoas fazem. Outras vezes, o abuso é praticado através de um convencimento ou manipulação sutis, uma espécie de “lavagem cerebral” da vítima. Então,
a própria criança ou adolescente pode ficar com dúvidas sobre como explicar o que aconteceu, o que pode tornar seu relato confuso para quem está ouvindo.


4 – Sentimentos de vergonha, culpa, medo: abuso sexual é um assunto bastante constrangedor para a criança/adolescente, muitas vezes gerando sentimentos de vergonha e culpa. Então, é comum a vítima ter dificuldade de explicar detalhes, falar o que de fato aconteceu, sentindo-se constrangida e não querendo falar mais sobre o assunto. Além disso, a vítima pode estar sofrendo ameaças, temendo as consequências da revelação e a reação
de quem está ouvindo, o que pode fazer com que seu relato pareça cheio de dúvidas ou com poucas explicações.


5 – Boa relação entre a vítima e o agressor: muitas pessoas acreditam que, quando acontece um abuso sexual, a criança ou adolescente passa a ter medo ou raiva do abusador, mas isso nem sempre é verdade. Muitas vezes, os abusos sexuais são praticados por pessoas da família, alguém que a vítima gosta e que é importante para ela. Desse modo, mesmo sendo
molestada, a vítima nem sempre sente medo ou raiva, podendo inclusive sentir afeto pelo agressor. Assim, alguns adultos podem duvidar do relato de uma criança ou adolescente, simplesmente porque a vítima tinha uma boa relação com o acusado.


6 – Crenças de que as crianças estão fantasiando ou mentindo: existe uma crença popular de que as crianças e adolescentes fantasiam muito e que inventam mentiras. É importante lembrar que crianças não têm conhecimento nem percepção sexual suficientes para fazer relatos de fantasias sexuais adultas. Além disso, falta às crianças conhecimento e
maturidade para elaborarem mentiras sobre abuso sexual, assim como uma motivação para isso. Esse tipo de crença é extremamente perigosa porque invalida e diminui os relatos das vítimas, as mantendo em situação de perigo.

Silvia Pereira Guimarães

16 de setembro de 2020Comments are off for this post.

Educação Sexual para Crianças e Adolescentes

Crianças e adolescentes devem ter informações de qualidade sobre sexualidade, adequadas ao seu nível de desenvolvimento e faixa etária. Quando a família não dá essa orientação, deixa espaço para que recebam informações pobres e distorcidas, como aquelas que ouvem na conversa com colegas ou que assistem na mídia. Sem essa base, eles também ficam mais suscetíveis a repetir ideias e valores incompatíveis com os da família. Mas, o pior de tudo, é que quando desconhecem o tema, eles se tornam alvos fáceis para abusadores, que aos poucos introduzem noções sobre sexo, isso de uma forma que somente alcança seus próprios interesses. Há agressores que que se aproveitam da falta de compreensão de crianças e adolescentes sobre o assunto para saciar a curiosidade sexual delas ao mesmo tempo em que as alicia. 

Para ajudar com o diálogo, os adultos devem buscar informações sobre como explicar questões sobre sexualidade para cada idade de seus filhos e ter claro que esse conhecimento é fundamental para que se protejam.

As crianças mais novas, de até 4 anos de idade, devem ser ensinadas, o quanto antes, a reconhecer e nomear todas as partes do corpo. Além disso, devem entender que algumas dessas partes são íntimas e só devem ser tocadas por outras pessoas em situações onde precisam de ajuda, como no banho, quando vão trocar de roupa ou precisam ser examinadas por algum médico, por exemplo. Com elas podem ser trabalhadas noções sobre o funcionamento de alguns órgãos do corpo, como por exemplo, aqueles que são usados para fazer xixi ou cocô. As diferenças físicas entre meninas e meninos, homens e mulheres também podem ser introduzidas. 

A partir dos 5 anos, os pais podem começar a ser confrontados com perguntas mais complexas e devem estar abertos para oferecer esclarecimentos de forma honesta. No diálogo, a linguagem deve ser ajustada para ser compreendida por esses pequenos, mas é recomendável evitar alusões, como a história da cegonha ou do repolho. Nessa idade, as crianças já podem receber noções sobre: a gestação e como toda pessoa nasce; relações de namoro, casamento e a época certa para cada coisa; as diferenças entre toques que são de carinho e adequados em relação àqueles que são ruins e abusivos; a nudez e os limites da exposição de seu corpo, seja em casa, na rua ou na internet; e como reagir em situações de desconforto com o contato físico de outras pessoas. 

Dos 12 anos em diante, a adolescência traz demonstrações mais frequentes de curiosidade e interesse por sexo, mas, obviamente, essa ainda é uma fase de descobertas, sem a maturidade do exercício sexual adulto. Nessa fase, deve-se discutir com os jovens temas como: suas mudanças corporais e como o ritmo de desenvolvimento é diferente para cada pessoa; o uso de contraceptivos e a gravidez; o risco de doenças sexualmente transmissíveis; as várias identidades e orientações sexuais; sexting e a exposição do próprio corpo na internet; a responsabilidade mútua de garotos e garotas com as práticas sexuais; e a necessidade de consentimento para qualquer atividade sexual. 

Os pais normalmente sentem vergonha em conversar sobre sexualidade com seus filhos e acabam sem saber o que falar ou como falar do assunto. Isso deve ficar mais simples, agora que mostramos um pouco de como fazer isso. O importante é não desistir e, se você chegou até aqui, está no caminho certo, buscando meios para facilitar essa comunicação. Saiba que sua dedicação para abordar a sexualidade com seu filho ajuda a criar um vínculo de confiança entre vocês ao mesmo tempo em que o deixa mais protegido.

Liliane Domingos Martins

31 de agosto de 2020Comments are off for this post.

Violência, abuso ou exploração sexual? O que é cada um?

Afinal, que expressão usar? Ouvimos referências aos termos “abuso”, “exploração” e “violência sexual” como se fossem a mesma coisa e isso gera alguma confusão. Vamos tentar aqui torná-los mais precisos. 

Violência sexual é um conceito mais amplo, que inclui os dois outros termos: o abuso sexual e a exploração sexual. Dentro da ideia de violência sexual, portanto, temos o abuso e a exploração, sendo que ambos envolvem a utilização de crianças ou adolescentes como objetos para satisfazer interesses sexuais de adultos ou de pessoas com maior grau de maturidade.

A diferença entre o abuso sexual e a exploração sexual é que o primeiro termo refere-se a todo ato ou jogo sexual que alguém mais velho faz com uma criança ou adolescente. Isso abrange qualquer estimulação erótica ou incitação do adulto em relação à vítima, envolvendo desde comentários inapropriados, mostrar material pornográfico, realizar ou solicitar toques em suas partes íntimas até os toques indevidos em seu corpo, sexo oral e penetração. A exploração sexual é quase a mesma coisa, mas, nesse caso, tais atividades eróticas ocorrem em troca de remuneração ou de outra forma de compensação, seja para a vítima ou para terceiros. Isso acontece, por exemplo, quando alguém se beneficia financeiramente da situação ou quando o agressor oferece presentes ou dinheiro à vítima em troca do contato sexual.

Seja qual for o caso, o que é necessário ficar bastante claro é que o envolvimento íntimo de adultos com crianças ou adolescentes sempre é errado e pode trazer consequências negativas muito graves e até mesmo permanentes para a vítima. Em caso de suspeita, não hesite: denuncie!

Juliana Borges Naves

31 de agosto de 2020Comments are off for this post.

O “Radarzinho” do Desconforto e o Abuso Sexual de Crianças

É comum que crianças vítimas de violência sexual comuniquem ter sentido um desconforto com a abordagem do agressor. Podem não saber explicar muito bem, mas, quando revelam o abuso, dizem ter percebido que aquilo não parecia certo. Essa sensação pode se misturar com muita dúvida quando esse contato é apresentado pelo abusador como uma forma de carinho ou uma brincadeira. Apesar da confusão que sentem, é importante que os pais estejam atentos para ensinar seus filhos a confiarem em seus instintos e nessa sensação de que há algo errado em alguns tipos de contato físico. 

Toda criança pode aprender a ligar esse “radarzinho” sobre situações sexualmente abusivas. Sobre isso, a grande dúvida é: como fazer para que esse mecanismo interno funcione bem? A resposta envolve ensinar aos filhos algumas estratégias para que reconheçam e reajam a qualquer incômodo que o toque de terceiros provoque neles. 

Nesse exercício, é importante que os pais compreendam que as demonstrações físicas de afeto por parte da criança precisam ser espontâneas. Ela deve ser desobrigada a dar beijos ou abraços em qualquer pessoa quando não tem vontade de fazer isso. Do mesmo modo, toda criança deve ser incentivada a se opor quando a aproximação física de alguém lhe causar vergonha ou dor. Ela deve ser autorizada a explicar para a tia que acha desagradável quando ela lhe aperta as bochechas ou a dizer “NÃO” para um tio que lhe abrace de uma forma estranha. 

Longe de parecer falta de educação, esses cuidados ajudam a criança a entender que o corpo dela e suas impressões devem ser sempre respeitados. A ideia é que ela esteja alerta, que saiba reconhecer quando algo errado acontece e que tenha confiança no apoio dos pais para contar sobre qualquer sensação ruim que experimentar.

Liliane Domingos Martins